Cavernas escavadas em rochas podem armazenar CO2 liberado na extração de gás e óleo

O Centro de Pesquisa e Inovação em Gás da Poli propõe escavar cavernas que segurem o CO2 no fundo do mar durante a extração de metano e petróleo

 18/06/2021 - Publicado há 3 anos
Foto: Pixabay
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A cerca de 300 quilômetros da costa brasileira, as reservas do pré-sal estão sob camadas espessas de rocha salina e contêm óleo e gás de valor comercial, como petróleo e metano, que são extraídos para o consumo. No entanto, o gás proveniente do pré-sal é rico em CO2, um dos maiores agravadores do efeito estufa. Para não emiti-lo na atmosfera, é necessário processar o gás e injetá-lo em um poço ou em uma rocha que servem como reservatório. No longo prazo, o CO2 injetado começa a sair do poço, junto com o óleo, um gargalo na produção de petróleo e gás. 

O Centro de Pesquisa e Inovação em Gás, patrocinado pela Shell e pela Fapesp, propõe estudos para a escavação de cavernas nas rochas salinas para, além de armazenar CO2, separá-lo do metano. É o que explica o professor Gustavo Roque da Silva Ássi, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli) da USP e membro do centro de pesquisa, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. “O conceito é muito simples, só que a tecnologia é muito avançada e complicada. Imagina que você tem uma camada de rocha salina muito espessa, como você cava um buraco no sal? Ora, você dissolve o sal com água!”, explica o professor, a respeito do processo chamado lixiviação.

Uma vez na região de sal, pode-se injetar água do mar como um “canudinho”, retirando uma salmoura do fundo do mar por um outro canal, um “canudo” de dois canais. “Então essa salmoura concentrada, com muito sal dissolvido, vai ser dispersa no fundo do mar e você vai começar a cavar um buraco na rocha, cheio de água do mar dissolvendo a rocha, então vai crescendo em volume uma caverna, chegando a ter 450 metros de altura e 150 metros de diâmetro, é uma baita caverna”, afirma Ássi. Esse vazio dentro da rocha salina estaria pronto para receber o gás natural que sai junto com o processamento de petróleo.

O projeto vem desenvolvendo a tecnologia desde meados de 2017 e recebeu o Prêmio de Inovação Tecnológica da Agência Nacional Petróleo em 2019, como uma solução tecnológica para separação de gases e armazenamento de carbono, tendo o oceano como participante ativo, guardando ou absorvendo carbono neste período de mudança climática e transição energética. “É uma forma de a gente explorar os recursos do oceano, não só para tirar dele o óleo, gás e outros recursos naturais, mas também podendo olhar para a reserva geológica debaixo do leito marinho e guardar carbono que a gente não quer emitir na atmosfera”, afirma o professor.

Mas o gás não vai vazar da caverna? Segundo Ássi, em balanço de pressão com a caverna e com a coluna de água que está em cima, o CO2 não vaza de lá como um gás sai de uma bexiga de borracha. Ele está pressurizado e estável dentro dessas condições da caverna. “Com o tempo, podemos selar a caverna e abandonar o CO2 lá para sempre.” Os pesquisadores tentam agora construir uma caverna piloto e juntar empresas do setor de óleo e gás interessadas. Para o professor, “talvez leve mais uma década até que as cavernas estejam operacionais e guardando carbono nessa proporção, mas é o ciclo natural do desenvolvimento tecnológico, precisamos passar por esses ciclos de teste”.


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