As crianças estão se infectando mais pelo coronavírus na segunda onda da pandemia. Segundo levantamento do mês de março feito pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Demais Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo (SindHosp), aumentou em 47% o número de crianças e adolescentes internados com covid-19 na rede particular. Desde o início da pandemia, 779 crianças com até 12 anos já morreram da doença no Brasil, aponta o DataSUS.
As menores taxas de isolamento social e, consequentemente, a maior exposição dos pequenos ao vírus têm sido um dos principais fatores para a contaminação, aponta o pediatra Werther Brunow de Carvalho, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: “As pessoas não estão mantendo distanciamento e confinamento adequados. Os porcentuais hoje, comparativamente aos porcentuais de junho, julho, agosto do ano passado, em termos de isolamento social, são diferentes, então essa é uma questão. E essa diferença também influencia as crianças, porque os pais não fazem isolamento e as crianças vão junto”.
As crianças são geralmente acometidas de quadros leves da doença, mas é válido lembrar que, mesmo assintomáticos, os pequenos podem transmitir o vírus para outras pessoas. O médico informa que, caso se notem sintomas, como febre, tosse, coriza ou vômito, é essencial levar a criança ao médico. “Apenas esses dois dados, febre e tosse, são suficientes para que se levante a suspeita de uma possibilidade de infecção relacionada à covid-19. Por isso, temos recomendado aos pais no início dos sintomas de febre, tosse, às vezes nariz escorrendo, presença de vômito, já procurar o pediatra ou levar a criança ao setor de emergência.”
Um fator preocupante nos casos de crianças infectadas pela covid-19 é a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (MIS-C), reconhecida pela Organização Mundial da Saúde em 2020. Conforme Carvalho, a síndrome pode ocorrer em pacientes que inicialmente não apresentaram sintomas graves de covid-19 e, inclusive, pode levar a óbito. “A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica acontece no início da infecção da covid-19. O paciente tem contato com o vírus e esse contato pode determinar sintomas que de início podem não ser graves. Com a evolução do tempo, ele tem essa disseminação do vírus e pode manifestar uma inflamação bastante intensa, com uma resposta do organismo bastante intensa. Essa resposta intensa determina uma agressão grande ao organismo.”
Tanto adultos quanto crianças podem ter sequelas decorrentes da covid-19. Pacientes que tiveram comprometimento pulmonar podem apresentar alteração de troca de função pulmonar, principalmente da capacidade de difusão do oxigênio. Dores de cabeça, perda do olfato e paladar também têm sido observadas em crianças. Segundo o pediatra, os pacientes acometidos por essa síndrome podem desenvolver aneurisma de coronária. Além disso, os pequenos também são impactados psicologicamente, seja pelo medo da infecção ou pelo isolamento social.
“Uma sequela importante, principalmente quando a criança apresenta MIS-C, é um acometimento importante do coração. Essas crianças apresentam aneurisma de coronária. Esse aneurisma é uma complicação importante desse comprometimento do miocárdio e é uma sequela que precisa ser seguida posteriormente à alta dessa criança. Outra questão fundamental é psicológica. As crianças que têm a doença ficam muito mais impactadas. Se já estão impactadas quando não têm a doença, imagina quando têm”, finaliza Carvalho.
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