Busca ativa e campanhas reduziriam atraso na segunda dose da vacina contra a covid-19 entre idosos

A cobertura vacinal de idosos na faixa de idade entre 60 e 69 anos é de apenas 4%, considerando todo o território nacional

 26/04/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 04/05/2021 as 10:10
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Campanhas e busca ativa (por telefone ou visita domiciliar) ajudariam a completar o esquema vacinal, garantindo, assim, a eficácia do imunizante e proteção contra a doença- Foto: Cristine Rochol/PMPA/Fotos Públicas

 

Levantamento semanal de cobertura vacinal realizado por pesquisadores da USP em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que continua baixa a aplicação da segunda dose da vacina contra a covid-19 entre os idosos no Brasil, em torno de 4% na faixa entre 60 e 69 anos.  Entre as soluções apontadas pelos cientistas, a promoção de campanhas e a busca ativa (por telefone ou visita domiciliar) para completar o esquema vacinal, “garantindo, assim, a eficácia do imunizante e proteção contra a doença”, diz professor Mário Scheffer, pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e um dos responsáveis pelo estudo. A última nota divulgada foi dia 23 de abril (sexta-feira), com informações atualizadas de todos os estados da federação.

“O correto, enquanto a oferta de vacinas é baixa, é continuar priorizando aqueles que têm maior risco de adoecimento grave e de morte.”

Professor Mário Scheffer, um dos responsáveis pelo levantamento da cobertura vacinal no Brasil – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Scheffer lembra ainda que, passados quase três meses do início da vacinação, o País não alcançou a meta de cobertura para os grupos prioritários, que é de 90%. As vacinas são insuficientes, a entrega de doses vem sendo constantemente revisada para menos e a cada dia é definido mais um grupo prioritário, sem que a população anterior tenha sido imunizada. “O correto, enquanto a oferta de vacinas é baixa, é continuar priorizando aqueles que têm maior risco de adoecimento grave e de morte”, diz o pesquisador.

“Os serviços de saúde e as prefeituras precisam convocar e incentivar as pessoas a voltarem aos postos de vacinação para tomar a segunda dose da vacina. Em partes, o atraso acontece porque ainda não houve o intervalo necessário entre a primeira e a segunda dose, mas, em muitos casos, as pessoas perderam a data”, diz o pesquisador. Até o momento, 81% das vacinas administradas no Brasil são as produzidas pelo Instituto Butantan, a CoronaVac, cujo intervalo entre uma dose e outra é de 28 dias. Segundo o estudo, até o momento, mais de 1,5 milhão de pessoas vacinadas com a CoronaVac ainda não haviam retornado para receber a segunda dose.

Cobertura vacinal de idosos

Em 21 de abril, das pessoas com idade entre 60 e 69 anos, 40% haviam recebido a primeira dose da vacina e apenas 4% a segunda dose; na faixa etária entre 70 e 79 anos, o porcentual de vacinados com a primeira dose foi de 85% e com a segunda, 37%; e dentre aqueles com 80 anos ou mais, 90% foram vacinados com a primeira dose e 46% com a segunda. Na população acima de 80 anos de idade, menos numerosa e convocada prioritariamente, em apenas 13 Estados a cobertura com segunda dose foi acima de 50%.

Para a população de 70 a 79 anos de idade, com exceção de Alagoas e São Paulo, nenhum outro Estado teve cobertura acima de 50% com duas doses. Para a população com idade entre 60 e 69 anos de idade, a cobertura com duas doses está em 4% no País, variando de 1% (na Bahia, Paraná e Tocantins) a 26%, no Amazonas. De 31 de março até 21 de abril, a cobertura da imunização com duas doses foi de 1% para 4% da população de 60 a 69 anos; de 3% para 37% entre quem tem de 70 a 79 anos; e de 29% para 46% entre aqueles com 80 anos ou mais. A cobertura vacinal com a primeira dose entre os idosos de 75 a 79 anos (89%) e de 70 a 74 anos (84%) avançou substancialmente ao longo da semana de 14 a 21 de abril, segundo mostra o estudo.

Nas grandes regiões (Tabela 2), para a população acima de 80 anos de idade, coberturas acima de 90% com a primeira dose foram alcançadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Coberturas com as duas doses são ainda baixas (em torno de 40%-50%) em todas as regiões.

Para a população de 70 a 79 anos de idade, foram registradas coberturas em torno de 83% a 89% com a primeira dose em todas as regiões, enquanto as coberturas com a segunda dose vão de 24% a 42%. Para a população acima de 60 a 69 anos de idade, coberturas ainda abaixo de 50% com primeira dose ocorrem em todas as regiões, exceto na região Norte, com 62%, o que ainda é considerado baixo para a meta de 90%. A cobertura com duas doses entre quem tem de 60 a 69 anos é incipiente (menor que 12%) em todas as regiões.

“Os serviços de saúde e as prefeituras precisam convocar e incentivar as pessoas a voltarem aos postos de vacinação para tomar a segunda dose da vacina. Em parte, o atraso acontece porque ainda não houve o intervalo necessário entre a primeira e a segunda dose, mas, em muitos casos, as pessoas perderam a data.”

Ao analisar a cobertura vacinal nos primeiros grupos prioritários definidos pelo Plano Nacional de Imunização (Tabela 3), observa-se que, com exceção do grupo de pessoas com mais de 60 anos institucionalizadas, e daqueles com mais de 80 anos de idade, a cobertura vacinal alcançada com a primeira dose é ainda aquém da desejada para os demais grupos-alvo iniciais da vacinação, considerando que metas acima de 90% deveriam ser alcançadas.

Importância da cobertura vacinal de 90%

Segundo o professor Scheffer, a monitoração da cobertura vacinal é importante para saber se as pessoas que têm maior risco de adoecimento e morte estão protegidas. A meta desejada de cobertura vacinal para os grupos prioritários é de 90%. As vacinas disponíveis para os brasileiros prometem eficácia entre 50% e 70% para prevenção das formas graves da covid-19. Levando em conta a alta transmissibilidade da doença, para que essas vacinas tenham impacto populacional, as metas almejadas de cobertura vacinal entre os grupos prioritários devem ser acima de 90%.

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Origem dos dados

Além de Scheffer, da USP, Guilherme Loureiro Werneck e Lígia Bahia, da UFRJ, também fazem parte do levantamento de cobertura vacinal. Os dados sobre as doses administradas no território brasileiro são oriundos dos Registros de Vacinação Covid-19, obtidos no site do OpenDataSUS, que corresponde às informações divulgadas pelo Ministério da Saúde até aquela data. A base é alimentada por diferentes sistemas de cada unidade da Federação e as informações tratam sobre as primeiras e segundas doses aplicadas das vacinas Covishield (AstraZeneca/Oxford) e CoronaVac (Sinovac). Acesse a íntegra da nota Cobertura Vacinal do dia 23 de abril.

Mais informações: e-mail mscheffer@usp.com.br, com o professor Mário Scheffer

Rádio USP

Ouça a entrevista com o professor Mário Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, no Jornal da USP no ar 1ª edição, sobre o estudo que mostra que após 100 dias de vacinação contra Covid-19, a cobertura vacinal entre idosos é insuficiente e ainda há discordâncias nos critérios para a convocação de pessoas com comorbidades .

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atualizado em 05/05 às 10h09


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