A comunicação é um desafio permanente

Por Luiz Roberto Serrano, jornalista e superintendente de Comunicação Social da USP

 21/12/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 22/12/2020 as 16:08

Luiz Roberto Serrano -Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

No dia 3 de abril deste ano, o Jornal da USP destacava uma reportagem com o seguinte título: Contribuições da Universidade para combate à covid-19 levam Jornal da USP a bater recorde. A “linha fina”, informação que complementa o título, dizia: “Foram 3,5 milhões de pageviews em março, um aumento de 142% na audiência”.

Prosseguia a reportagem: “O Jornal da USP bateu seu recorde de audiência em março. Foram 3,5 milhões de pageviews, um crescimento de 142% em relação ao mês anterior. A editoria campeã foi a de ciências, 1,6 milhão de pageviews.”

E continuava: “Esse recorde não é mérito do jornal, mas sim de quem produz, de quem constrói o conteúdo noticiado, a USP, seus professores, alunos, servidores que mesmo trabalhando em regime especial, home office, sob rigorosas medidas de segurança para preservar a saúde quando presencial, continuam realizando pesquisas e atividades docentes. Com essas pesquisas, professores/pesquisadores buscam criar soluções para o enfrentamento da pandemia. Em atividades didáticas on-line, buscam manter os cursos de graduação e pós-graduação, sem perda de qualidade no seu conteúdo”.

Uma tabela registrava os números alcançados pelo Jornal da USP naquele mês de março, o primeiro em que os brasileiros conviviam, assustados, com a pandemia:

Números do Jornal da USP
(em 31/3/2020)


jornal.usp.br

.001
pageviews
.869
reações
.177
impressões
.203
views
Foi um momento atípico, em que a população, insegura e desinformada, procurava saber alguma coisa sobre a pandemia que nos assola até hoje e, como indicam os números da audiência do Jornal da USP, foi procurá-la onde se produz ciência e conhecimento, as universidades e instituições científicas, em especial a USP, a líder em pesquisas em nosso País.

Passados o susto e o desespero iniciais, apesar do alto número de infectados e de mortos, a população estabeleceu um modus vivendi com a pandemia em meio a divergências e disputas governamentais sobre como combatê-la e alta dose de indisciplina para aceitar as orientações científicas sobre as regras de convivência social para evitar, ou diminuir, sua propagação. Neste mês de dezembro, em vários países do mundo, a pandemia não só não regrediu como recrudesceu – inclusive no Brasil.

Em função dessa acomodação na convivência com a pandemia, a audiência do Jornal da USP se estabeleceu num patamar menor, hoje está na casa dos 2 milhões de pageviews/mês, mas bem acima do que era antes do mês de março, 1,6 milhão/mês.

Momento vacina

Vale ressaltar um outro momento, este recente, quando as pesquisas sobre vacinas apresentam os primeiros resultados e já são aplicadas nos EUA, na Inglaterra e em outros países.

Dezessete mil pessoas, em uma semana, acompanharam o seminário on-line Vacinas e covid-19, uma visão multidisciplinar, com os experts uspianos no tema, produzido pela Pró-Reitoria de Pós Graduação, pelo Instituto de Estudos Avançados e veiculado pelo Canal USP no YouTube e pelo Jornal da USP. Quase dez mil pessoas, em dois dias, assistiram à live Coronavírus x Vacinas, o que esperar para 2021”, com o professor Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP, a convite do reitor Vahan Agopyan e do vice-reitor Antonio Carlos Hernandes. Foram ações que levaram à população interessada uma visão organizada e ampla sobre as vacinas que geram tanta esperança para a superação desta famigerada pandemia.

A lição a tirar desse cotejo de números é, na verdade, um desafio.

O recorde de audiência registrado pelo Jornal da USP em março, primeiro mês da pandemia, indica que, ao ser acossada pela desconhecida e perigosa pandemia, a população correu à Universidade para informar-se, saber se alguma tábua de salvação sairia de seus laboratórios. A boa audiência das lives sobre vacinas mostrou que o público especializado e a mídia, pelo menos, vieram procurar na USP luzes sobre este importante passo no combate à covid-19.

O desafio é: como manter um elevado interesse pelas atividades da Universidade quando a vida voltar ao normal, suas pesquisas, projetos e estudos tratarem de temas importantes, que contribuam para o desenvolvimento científico, social, econômico da sociedade, mas não implicarem questões dramáticas como as que envolveram a pandemia da covid-19?

Comunicação com a sociedade

Trata-se, na verdade, da antiga questão da comunicação da Universidade com a sociedade.

É uma questão sensível principalmente para as universidades públicas, que, no caso específico do Estado de São Paulo, são mantidas por receitas provenientes do ICMS pago pelos contribuintes paulistas.

Como fazer a sociedade perceber, permanentemente, que o ICMS dirigido para as universidades públicas paulistas reverte em ensino, serviços, produtos, políticas públicas a seu favor?

Como fazer com que as autoridades e o Legislativo do Estado compartilhem desse conhecimento e celebrem a contribuição das três universidades para as sociedades paulista e brasileira e não tentem restringi-la, muitas vezes a partir de visões políticas e ideológicas equivocadas, como ocorreu este ano e não se concretizou graças ao intenso, dedicado e competente trabalho liderado pela Superintendência de Relações Institucionais (SRI)?

Há muitos instrumentos para operacionalizar esse esforço de comunicação. É da natureza dinâmica da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária mostrar as atividades da USP para as comunidades, para a sociedade, o que tem ocorrido em volume crescente. O USP Talks é cuidadosamente produzido pela Pró-Reitoria de Pesquisa, que neste ano também promoveu a exposição virtual Você e a USP, voltada para a Assembleia Legislativa, que se desdobrou em lives com professores da Universidade. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação, junto com o IEA, marcou um gol com o seminário sobre vacinas e divulga vídeos de jovens pesquisadores. No seu contato com vestibulandos, a Pró-Reitoria de Graduação mostra e atrai para a USP as novas gerações. O projeto Vem pra USP, ação em parceria com a Secretaria da Educação do Estado, embute um vigoroso vetor de comunicação.

A assessoria de imprensa da Reitoria batalha cotidianamente para conquistar espaço e defender a USP na mídia em geral. As assessorias das unidades desenvolvem o mesmo trabalho em suas áreas de interesse e nos inúmeros campi.

A Rádio USP – em São Paulo e Ribeirão Preto – está em constante modernização e, atualmente, via streaming, pode ser ouvida em qualquer lugar do mundo. Nossos podcasts estão ganhando audiência. A do Canal USP, no YouTube, que agrega várias produções da USP, já bateu em 247 mil inscritos.

A produção cotidiana desse sistema é acompanhada de perto pelo sistema universitário brasileiro, pela mídia em geral, que utiliza suas informações para gerar pautas para reportagens e debates, e por um crescente interesse do público em geral.

Recentemente, um passo diferenciado e pioneiro foi a veiculação nas TVs Globo e Cultura de um spot de 30 segundos, estrelado pelo ator Matheus Nachtergaele, ex-aluno da Escola de Comunicações e Artes (ECA), divulgando o USP Vida, programa de arrecadação a favor das pesquisas da Universidade sobre o combate à pandemia, uma ação concertada entre o vice-reitor, Antonio Carlos Hernandes, e os professores Clotilde Perez e Dorinho Bastos, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA, com apoio da SCS.

Esses são os instrumentos – e até poderiam ser mais.

O desafio é para todos

Na verdade, o desafio de manter no público um alto nível de interesse pelas informações da USP vai além do trabalho dos próprios comunicadores do sistema. É de toda a Universidade e será vencido com o amplo engajamento de todos, com a ampla percepção da necessidade e essencialidade da comunicação.

As unidades, as agências, os institutos desenvolvem inúmeros programas e atividades voltados para as comunidades, de todos os tipos e dimensões. Esses serviços, pesquisas, produtos são vetores de comunicação, de relacionamento com os públicos, e têm o potencial de estimular, criar proximidade e mostrar-lhes o que é a Universidade. A comunicação deve estar no coração de seu planejamento, no repertório de seus criadores e executores, como um objetivo importante a ser atingido também.

Comunicação tem um certo quê de enxugar gelo, por mais que se faça, ainda mais há a fazer, nem todo o público é sempre atingido, as audiências se renovam.

A Universidade é uma entidade complexa, a percepção de sua importância, especialmente da pública, mal alcança toda a elite de uma sociedade como a brasileira e os crescentes ataques a ela, ultimamente, são uma mostra disso. Do grande público, ela tende a ficar mais distante ainda. A Universidade é um espaço que induz à reverência, mas não necessariamente à compreensão de seu papel fundamental na construção de um país, de uma sociedade.

Há muito a fazer, no cotidiano e no longo prazo.

O fundamental é alimentar permanentemente, por todos os meios possíveis, o diálogo com a sociedade.


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