A difícil arte de se tornar adulto faz adolescência se prolongar

Falta de independência e prolongamento dos estudos são alguns dos fatores que fazem a adolescência ir para além dos 18 anos

 11/11/2020 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 12/11/2020 as 14:25
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Foto: PublicDomain Archive – Pixabay

A saída da casa dos pais e a busca por independência financeira, afetiva e emocional têm acontecido cada vez mais tarde. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o prolongamento ou o retorno da convivência familiar entre pais e filhos adultos apresentaram aumento de mais de 25% em 2015.

É o caso da estudante de Medicina, Bianca Volpe, de 22 anos, que ainda se sente adolescente e tem medo da vida adulta. Apesar de já morar sozinha por conta dos estudos, ainda depende muito dos pais emocional e financeiramente. “Eu tenho 22 anos e ainda me considero uma adolescente. Eu sinto medo da vida adulta, tenho medo de não conseguir me virar sozinha, principalmente por conta da minha dependência afetiva com meus pais.”

Situações como de Bianca e, ainda, a prolongação dos estudos, para além da faculdade, e o adiamento de compromissos como o casamento e a parentalidade podem estar mudando a percepção das pessoas de quando a vida adulta realmente começa. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define que o ciclo acontece dos 12 aos 18 anos de idade. Já para um grupo de cientistas australianos, o período se estende até os 24 anos, conforme artigo publicado em 2018 na revista científica Lancet Child & Adolescent Health.

O psicólogo Lucas dos Santos Lotério, mestre em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que o sentimento de ainda ser adolescente, que muitos jovens adultos apresentam, tem ligação com inseguranças e medos. “Sentir-se adolescente, na verdade, têm a ver com sentir-se imaturo e despreparado para as responsabilidades da vida adulta. Ser adulto exige, além das responsabilidades, manejo social e capacidade de lidar com as adversidades, e como os jovens têm postergado a saída da casa dos pais, principalmente por conta do ensino superior e das dificuldades financeiras, essa sensação de não ser adulto se torna mais presente, podendo até, em alguns casos, gerar ansiedade e quadros depressivos.”  

Lotério afirma que a psicoterapia é essencial na aceitação da vida adulta e para vencer os medos e inseguranças. “A psicoterapia ajuda com que a pessoa se sinta mais forte para enfrentar a vida, sem contar que conversar e ouvir um profissional faz com que o paciente fique mais seguro para aceitar seu crescimento.”  

Ouça no player acima as entrevistas com o psicólogo Lucas dos Santos Lotério e a estudante Bianca Volpe.


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