Os economistas têm um termo para essa situação: externalidade, o que ocorre quando a ação de uma pessoa (ou empresa) impacta o bem-estar de outros, sem que isso seja intermediado pelo mecanismo de mercado. Um exemplo clássico é o de uma empresa que polui um rio, que é usado para irrigar uma produção de hortaliças. A poluição prejudica esta produção e, em princípio, não há qualquer mercado para intermediar esse impacto. Neste cenário, a empresa poluidora consideraria os custos privados de suas ações, mas não os custos sociais. De fato, se ela levasse em conta os custos sociais ela se importaria com o produtor de hortaliças e tomaria medidas para reduzir o nível de poluição. Ora, se não há um mercado para essas empresas negociarem e a empresa poluidora não revê espontaneamente sua conduta, resta a opção de introduzir alguma regulamentação para reduzir a poluição. Não por acaso, princípios como esses levaram ao desenvolvimento do mercado de carbono.
Do mesmo modo que a poluição afeta a outros, e não apenas aos causadores da poluição, a decisão de os indivíduos de tomarem ou não uma vacina afeta a outros, e não apenas a eles próprios. Naturalmente, em meio a uma pandemia, como a que vivemos, os custos sociais da recusa à vacinação tornam-se ainda maiores. Daí a pergunta, quando houver a vacina, como as autoridades deveriam se comportar? Essa questão é bastante complexa, pois envolve liberdades individuais. De todo modo, a conscientização não retira liberdade de ninguém e dá informações para que todos tomem a melhor decisão. Neste sentido, havendo uma vacina, esperaríamos uma grande campanha de vacinação que transmitisse à população a importância do engajamento de todos no combate à pandemia da covid-19. Infelizmente, declarações recentes de certas autoridades indicam que esse não será o caso. Ainda nos faltam liderança e coordenação no combate à covid-19.