Impactos da pandemia na aviação civil só devem ceder no próximo ano

Para Jorge Eduardo Medeiros, as adaptações virtuais impostas pela pandemia podem reduzir a demanda por transporte aéreo

 07/10/2020 - Publicado há 4 anos
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O Jornal da USP no Ar recebeu hoje (7) Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da USP, para tratar dos impactos da pandemia da covid-19 na aviação regional no Brasil, relacionando a esse quadro os negócios entre Embraer e Boeing, desfeitos em função da crise sanitária.

O setor de aviação foi o primeiro e mais fortemente atingido pela pandemia, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou as precauções que o mundo todo deveria tomar em razão da crise sanitária que se instaurou. Segundo Medeiros, no Brasil, houve um corte de 95% no transporte aéreo doméstico, ao passo que, no mundo, o impacto não foi tão grande. A recuperação desse mercado, no entanto, se dá de forma lenta, especialmente no setor internacional. 

O professor comenta que a aviação regional no Brasil é limitada. A doméstica cobre ligações entre capitais, e as ligações entre cidades do interior, feitas com aviões menores, caíram bastante. Para ele, esses setores vão se recuperar com lentidão. Sobre o auxílio que o governo daria, a leitura de Medeiros é de que nada chegou às empresas ainda. “Acredito que a participação do governo está aquém do que as empresas solicitaram”, afirma. 

Por isso, muitas empresas precisaram buscar alternativas por iniciativa própria, além da devolução de aviões. De acordo com o professor, houve uma compensação, principalmente na Latam, com transporte de carga internacional, operação de aviões de passageiros com carga no porão e até mesmo com o uso dos seat containers (contêineres de assento).

Sobre o fim da parceria da Embraer com a Boeing, Medeiros afirma que o impacto é estimado na casa de US$ 500 milhões. A fabricante brasileira estava, inclusive, considerando acionar a Boeing por ter rompido acordo já assinado. “É interessante destacar que, nesse contexto, aviões grandes deixaram de ser fabricados e cada vez menos usados. Portanto, abre-se espaço para aviões menores, como os oferecidos pela Embraer, que precisa buscar a colocação desses aviões em etapas que não exigem longas distâncias”, afirma o professor, que diz existir um mercado a atender e uma janela de oportunidade para a empresa brasileira. Ele, no entanto, acredita que não vai deixar de existir a procura por uma parceria. 

Medeiros conclui, afirmando que a situação só será restabelecida no próximo ano, apesar de querer que “chegássemos ao final deste ano com uma demanda que tivesse uma queda de aproximadamente 30% em relação ao mesmo período do ano passado”. Ele acredita que a demanda doméstica volte aos poucos e a internacional demore um pouco mais. “Temos ainda a mudança de hábitos. Neste contexto, usa-se muito reuniões e encontros virtuais, aos quais nos acostumamos. Isso deve reduzir também nossa demanda de transporte aéreo”, finaliza.

Ouça a íntegra da entrevista no player.


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