Desigualdade social afeta adesão ao ensino remoto

O professor Marcos Garcia Neira avalia cenário como preocupante e considera necessário identificar como os alunos estão e como reorganizar os projetos escolares

 08/07/2020 - Publicado há 4 anos

Durante a pandemia, o ensino a distância foi a alternativa encontrada para dar seguimento à formação de estudantes de todos os Estados do País, seja via internet, rádio ou televisão. O professor Marcos Garcia Neira, diretor da Faculdade de Educação (FE) da USP, faz um balanço, em entrevista ao Jornal da USP no Ar, da adesão às aulas do ensino remoto e de como as dificuldades encontradas nesse período geram temores de abandono escolar.

Com as determinações de distanciamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a inclusão digital teve que ser disseminada tanto para alunos quanto para professores. No entanto, a avaliação dessa situação não é boa, segundo Neira:

Em menos de uma semana, todas as escolas fecharam, fazendo com que os professores tivessem que se adaptar abruptamente a esse novo cenário, e as crianças, sobretudo as de camadas mais vulnerabilizadas, enfrentam uma série de dificuldades materiais, como má conexão com a internet, e até mesmo em relação à sua sobrevivência, uma vez que suas famílias também estão passando por vários problemas”.

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil via Fotos Públicas

A adesão ao ensino on-line tem caído, uma vez que nem todos os alunos têm acesso às formas de comunicação estipuladas nesse sistema de Ensino Remoto Emergencial. De acordo com o professor, era necessário implementar uma relação pedagógica contínua e híbrida, além de adaptar o currículo escolar para essa nova realidade. “Agora, essa incerteza de como será o processo de avaliação desses estudantes também causa o afastamento deles. Aqueles com mais recursos ou mais autonomia até conseguem acompanhar, mas os que não têm isso e precisariam de um acompanhamento mais próximo podem não conseguir ter esse apoio, mesmo convivendo com adultos em casa”, diz.

Essas dificuldades também se estendem aos professores, que têm usado seus recursos próprios para ministrar as aulas, na maioria das vezes sem o apoio do Estado nem da iniciativa privada. Neira acredita que poderiam ser providenciados recursos e ações mais efetivos para o apoio pedagógico e material:

Nossas autoridades têm grande responsabilidade nessa situação, uma vez que nós teríamos tido tempo para nos organizar enquanto sociedade se tivéssemos uma política mais eficiente de distribuição de recursos e tivéssemos colocado em prática uma série de medidas de precaução, incluindo projetos para a educação”.

Apesar de tudo isso, o diretor não considera que o ano tenha sido perdido, uma vez que aprendizagens aconteceram independentemente do seguimento do currículo escolar normal. Após o retorno das aulas presenciais, ele considera necessário que haja uma avaliação desse processo para identificar como os alunos estão e como os projetos das escolas serão reorganizados, considerando os níveis de desigualdade social no País.

Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra.


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