Rotina do intensivista durante pandemia tornou-se mais desafiadora e estressante

Para a professora Maria Auxiliadora Martins, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a maior questão é enfrentar a heterogeneidade da covid-19, que leva a protocolos inacabados e provisórios

 25/06/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 30/06/2020 as 15:58
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Foto: Pixabay

O intensivista é aquele especialista médico acostumado a enfrentar desafios diários, dando suporte avançado à vida de pacientes em estado crítico. Até pouco tempo atrás, pouco se falava ou se conhecia desses profissionais. Mas nos últimos meses eles ganharam os noticiários e viram sua rotina diária ficar ainda mais intensa e estressante. 

Maria Auxiliadora Martins lembra que ser intensivista é cuidar de forma intensa o tempo todo; é saber lidar com encontros e despedidas e com o sentimento de querer ser Deus. Mas afirma que a pandemia trouxe “um momento de reflexão sobre a pequenez do ser humano” e, com isso, a oportunidade de “aprimorar a maneira de cuidar do outro”.  

Nesse contexto da pandemia, a professora Maria Auxiliadora avalia que a doação profissional é ainda maior, pois é necessário “cuidar não só do corpo, mas também da alma, e de forma muito mais intensa, pois envolve também a família do paciente, em função do distanciamento imposto pela situação”. 

Maria Auxiliadora nasceu na pequena Rio Piracicaba, cidade de Minas Gerais, distante 114 quilômetros de Belo Horizonte. Formou-se médica na Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia em Vitória, no Espírito Santo. Fez residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, onde se tornou professora da divisão de Medicina Intensiva Adulta. Especializou-se em cardiologia, mas optou por trabalhar em UTI por gostar de cuidar do paciente grave, na transição entre a vida e a morte, e poder ajudar não só o paciente, mas também a sua família.

Com o aumento dos casos, tanto de infectados como de mortes pela covid-19 na cidade de Ribeirão Preto nos últimos dias, a médica viu muita coisa mudar na sua rotina. “Além do burocrático, como estruturar novas unidades e implementar protocolos, temos que continuar com o cuidado, mas de forma mais intensa e estressante. Mas mantemos a parte gratificante quando conseguimos alcançar objetivos mesmo em meio à pandemia”, revela. 

O maior desafio, segundo a médica, é a incerteza, tanto do ponto de vista da doença, quanto da vida em si. “Estamos vivendo uma situação de novas evidências todos os dias; as manifestações são muito heterogêneas, por isso os protocolos são inacabados e provisórios.”  

Maria Auxiliadora Martins, médica e professora do HC da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -FMRP

Essa instabilidade é apontada como fator de grande apreensão, pois todos devem estar preparados para o aumento de leitos e contar com profissionais de saúde para atuar na linha de frente. “Tudo é muito assustador, pois temos a necessidade de implementar recursos que muitas vezes nem estão prontos para serem utilizados e isso gera uma preocupação com esse futuro que está chegando”. 

Sobre o cansaço, Maria Auxiliadora diz que não é físico, mas mental, cheio de preocupações, medos e angústias de não poder oferecer o necessário em função dos impedimentos da própria pandemia. Para amenizar esses sentimentos, Maria Auxiliadora se dedica à meditação e, quando é possível e não oferece riscos, também à corrida.

Além dos cuidados com sua própria saúde, Maria Auxiliadora e seus colegas também pensaram em cuidar daqueles que estão fora do hospital, levando conhecimento e ao mesmo tempo aprendendo mais sobre o novo coronavírus. Por isso, criaram a série Desafios na Pandemia, disponível no canal do Centro de Terapia Intensiva do HC de Ribeirão Preto no Youtube. As aulas são realizadas todas as quartas-feiras a partir das 20 horas. “A ideia do grupo é discutir com outros profissionais temas polêmicos sobre a covid-19, mas também oferecer conhecimento à população de forma geral.”

(Informações atualizadas em 30/06)

 


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