A startup BioLambda desenvolveu equipamentos que emitem radiação ultravioleta C (UVC) para descontaminação de máscaras, objetos, superfícies e de ambientes, que podem ser usados na eliminação do vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. Os dispositivos são baseados na eliminação do vírus e diversos outros patógenos por irradiação germicida com lâmpada de arco de mercúrio. O desenvolvimento dos equipamentos teve a colaboração de pesquisadores do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Processo Redox (Redoxoma), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), cuja sede é o Instituto de Química (IQ), também da USP.
“A radiação UVC é absorvida diretamente pelas bases de piramidina do vírus, o que leva à inativação viral por danos no material genético (DNA/RNA)”, explica o professor Maurício da Silva Baptista, do Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces do IQ, que mantém uma parceria de desenvolvimento tecnológico com a empresa. “Também podem acontecer danos em outras estruturas do vírus, como a proteína do revestimento viral, que protege o RNA da radiação UVC, impedindo a infecção nas células hospedeiras.”
De acordo com Caetano Sabino, sócio-fundador da empresa e pesquisador da área de biofotônica, um estudo, publicado em versão prévia (preprint), feito por pesquisadores nos Estados Unidos analisou a eficácia microbicida da luz UVC contra o SARS-CoV-2 depositado experimentalmente sobre superfícies de aço e de máscaras de proteção N95. “O estudo demonstrou que a luz UVC pode eliminar mais de 99,999% da carga viral de ambos os materiais, com doses de luz suficientes”, relata. Para testar seus produtos, a BioLambda firmou uma parceria com a pesquisadora Martha Ribeiro, do Centro de Lasers e Aplicações (CLA) do Ipen.
“Todos os equipamentos tiveram seus parâmetros radiométricos validados pelo CLA, para garantir a maior eficiência óptica possível de cada fonte de luz germicida”, destaca. Com o pesquisador Lúcio Freitas-Júnior, do ICB, foi comprovada a eficácia microbicida da luz UVC contra o SARS-CoV-2 em condições experimentais controladas. “O estudo foi concluído com sucesso e os dados estão sendo analisados matematicamente para a obtenção de uma ferramenta preditiva das doses de inativação necessárias para eliminação do coronavírus.”
Equipamentos contra covid-19
A linha de equipamentos contra a covid-19 inclui o UVMasks, que foi desenvolvido exclusivamente para descontaminação de máscaras de proteção N95 ou de tecido. Podem ser desinfetadas quatro máscaras por vez, por cinco minutos, num total de 960 máscaras por dia para cada equipamento. A versão manual do equipamento é o UVSurface.
“Ele usa a lâmpada de maior densidade de potência do mercado para esse tamanho, então é possível ter um processo muito rápido e eficaz”, afirma Sabino. “O tempo de exposição necessário para inativar mais de 99% dos vírus é cerca de 1 segundo”. O UVSurface pode ser usado para descontaminar objetos como telefones, teclados, dinheiro, maçanetas, correspondências, compras de supermercado etc.
Para desinfectar ambientes, a empresa criou o UVair, basicamente uma câmara de inox refletivo polido, com três lâmpadas dentro e um exaustor. O ar é puxado por cima, passa por um filtro, entra na câmara com uma intensidade UV altíssima e sai pela lateral por baixo, já descontaminado.
A BioLambda Científica e Comercial Ltda é uma empresa focada em aplicações de Óptica Biomédica. Atualmente, ela está autorizada a vender equipamentos para indústrias e empresas em geral e espera a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fornecê-los a hospitais e clínicas. “Temos muitos patrocínios para doações para hospitais públicos, que não puderam ser efetivadas por causa da Anvisa. São mais de 100 equipamentos de doações patrocinadas pela Vale do Rio Doce, Usiminas e BRF”, aponta Sabino.
Com experiência na pesquisa de mecanismos de fotoinativação de patógenos, o professor Baptista auxilia na implementação de tecnologias microbicidas nas aplicações desenvolvidas pela empresa. “No ano passado, a colaboração rendeu três publicações científicas em revistas mundialmente renomadas”, ressalta. Recentemente, foi desenvolvido um equipamento inteligente para aplicação de fototerapia no tratamento de infecções localizadas, inclusive para tratamento do pé diabético, com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto conta com a participação do médico João Paulo Tardivo, do FUABC – Hospital de Ensino Padre Anchieta, e do Cepid Redoxoma.
Mais informações: e-mail baptista@iq.usp.br, com o professor Maurício da Silva Baptista