Queda da Selic não significa liberação de crédito pelos bancos

Avaliação é de Rafael Paschoarelli, ao falar que os bancos sabem que estão em um momento arriscado e de elevada inadimplência

 24/06/2020 - Publicado há 4 anos
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A taxa Selic entrou recentemente para um patamar inédito ao ser reduzida a 2,25% ao ano, menor porcentual da série histórica do Banco Central (BC), desde que iniciada em 1986. O Conselho de Política Monetária (Copom) fez um corte de 0,75% da taxa, principal instrumento do BC para equilibrar a inflação oficial brasileira e aquecer a atividade produtiva. Desde outubro de 2016, essa foi a oitava redução seguida da Selic, que dita os juros básicos da economia. 

Neste momento de pandemia, a necessidade de crédito se faz ainda mais emergente, mas sua liberação pelos bancos está dificultada. “Por que [o banco faz isso]? Porque ele sabe que a situação é arriscada, que vai ter inadimplência. Então, ele segura dinheiro o máximo que conseguir, oferecendo crédito nas linhas que tiver mais garantia”, explica Rafael Paschoarelli, do Departamento de Finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar.

Por já saberem que a inadimplência está crescendo e deve aumentar, os bancos acabam segurando o dinheiro. Mesmo com a queda da taxa de juros, os efeitos não são imediatos no mercado de crédito. Segundo o professor, o caminho que os bancos farão para oferecer crédito depende de algum ente governamental que garantirá a operação, pois mais uma vez não pretendem arcar com a inadimplência sozinhos. 

Paschoarelli faz uma analogia para essa condição de os bancos oferecerem dinheiro apenas se tiverem uma garantia: “Existe a diferença de estar comprometido e envolvido em uma negociação. O ditado é do porco e da galinha, que estavam com fome e decidiram fazer um almoço. A galinha propõe ovos com bacon, ela dá os ovos e o porco, bacon. Quem está envolvido e quem está comprometido? A galinha está envolvida e quem está comprometido? É o porco, que vai dar a própria carne. O banco é a galinha, o banco nunca vai dar a carne”, explica o professor.

“A Selic é importante para quem é média [e grande] empresa. Empresa pequena vai continuar pagando juros [altos] ao banco”, ressalta. Ele não concorda, por exemplo, com o BC tabelar o juro do cheque especial em 8%. “Esse tipo de artificialismo não termina bem, tem que encontrar soluções de mercado.” Nesse caso, a solução é a competição, como as maquininhas de cartão, que atingem pessoas sem muito relacionamento com bancos. “A crise é muito séria. Vemos a Bolsa [de Valores] atingindo 100 mil pontos e eu não consigo entender como isso reflete a economia brasileira. Não reflete.”

Ouça a entrevista completa no player acima.


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