Semana de Música Antiga traz Beethoven em instrumentos de época

Com concertos, palestras e workshops, evento acontece entre 9 e 13 de setembro, na Cidade Universitária

 06/09/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 09/09/2019 as 10:44
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Arte sobre foto/Wikimedia Commons

 

Inicialmente dedicada a Napoleão Bonaparte, a Sinfonia n° 3, do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827), conhecida como Eroica, de 1803, é peça central da 10° Semana de Música Antiga da USP, que acontece de 9 a 13 de setembro na Cidade Universitária. A obra será executada no dia 9, às 12 horas, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP, pelo Conjunto de Música Antiga da USP, sob regência de William Coelho. O conjunto apresenta a Sinfonia nº 3 também neste domingo, dia 8, às 18 horas, no Sesc de Santos, no litoral paulista. É a primeira vez na América do Sul que essa composição de Beethoven é apresentada em instrumentos de época.

10° Semana de Música Antiga da USP inclui ainda outros quatro concertos, sempre às 12 horas, na BBM. No dia 10, o Harmoniemusik – quinteto de sopros do Conjunto de Música Antiga da USP – apresenta obras de Franz Krommer (1759-1831) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). No dia 11, o Trio Conceito Barroco traz composições de Arcangelo Corelli (1653-1713), Antonio Vivaldi (1678-1741), Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Georg Friedrich Händel (1685-1759). Já no dia 12, o Quinteto Alborán executará peças de Salvador Castro de Gistau (1770-?), Luigi Boccherini (1743-1805) e Juan Crisóstomo de Arriaga (1806-1826). O último concerto do evento, no dia 13, será dado pelo Bassano Consort, que exibirá composições de Giovanni Bassano, músico italiano que viveu entre os séculos 16 e 17.

O evento terá também palestras, mesas-redondas e comunicações, que ocorrerão na BBM e no Espaço das Artes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Entre os palestrantes convidados estão o professor Eduardo Monteiro, diretor da ECA, que abordará as últimas sonatas para piano solo de Beethoven, e Gabriel Pérsico, da Universidade das Artes, da Argentina, que falará sobre obras para flauta do compositor alemão Georg Philipp Tellemann (1681-1767).

Os workshops, previstos para os dias 10 e 11, tratarão de instrumentos musicais antigos. O professor Alejandro Aizenberg, da Argentina, falará sobre o fagote e o professor Diego Nadra, músico argentino que integra o Conjunto de Música Antiga da USP, apresentará o oboé. O violino e o violoncelo serão temas, respectivamente, dos professores Raul Orellana, do Chile, e Hermann Schreiner, da Argentina. A programação completa da 10° Semana de Música Antiga da USP – que integra também o 10º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos Séculos XVI, XVII e XVIII – está disponível no site do evento.

Reflexão teórica concretizada na prática

Os concertos a serem realizados durante a 10° Semana de Música Antiga da USP têm o objetivo de tornar o evento mais acessível e convidativo para o público em geral, afirma a professora Monica Lucas, docente do Departamento de Música da ECA, organizadora do evento. Segundo ela, os concertos também ajudam a exemplificar os assuntos tratados nos debates. “O que a gente faz é uma reflexão teórica, que porém só se concretiza na prática.”

Monica explica que uma das propostas da semana é tratar de temas ligados à música antiga por perspectivas diferentes. “Temos um repertório conhecido, como Beethoven, mas também queremos mostrar a música de Bassano, por exemplo, que é totalmente desconhecida, mesmo tendo ele sido um excelente improvisador”, destaca a professora. 

A professora Monica Lucas, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Além das diferenças entre os compositores e os períodos em que atuaram, Monica destaca que a semana vai deixar claro o contraste entre os instrumentos modernos e os históricos. “Os nossos instrumentos são do século 18, com um colorido diferente.” 

O instrumento moderno é muito “forte” e tem “muito volume”, o que acaba fazendo com que apresente certa igualdade entre suas notas, explica a professora. Segundo ela, essa característica é valiosa para determinados tipos de repertório, mas, considerando a música antiga, a falta de colorido do instrumento antigo representa uma grande perda.

“Imagine uma tela com várias tintas que se misturam para formar a obra. Depois, imagine uma tela com tintas diferentes, uma feita de água e outra feita de óleo. Elas não se misturam”, ilustra a professora, fazendo uma analogia com as artes plásticas para mostrar como o instrumento moderno não se encaixa na música antiga.

Para o professor Diego Nadra, oboísta do Conjunto de Música Antiga da USP, além da diferença no som, na articulação e na estética, a música interpretada por um instrumento antigo chega para os ouvintes de um jeito muito mais intenso. “Assistir a um concerto de música antiga, tocado com instrumentos antigos, com pessoas que sabem interpretar no estilo da época, movimenta mais a alma.” Para ele, esse estilo de música, executada nos instrumentos certos, está muito ligado à “retórica dos afetos”. 

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A Semana de Música Antiga da USP precisou percorrer um longo caminho até se tornar o que é hoje. Começou há 15 anos com um grupo de sopros, o que, para Monica Lucas, que toca clarinete, foi o mais fácil de montar.

Aos poucos, ela foi encontrando as pessoas para compor o grupo de cordas, mas passou a depender de um regente talentoso que conhecesse o assunto. “O regente é uma peça-chave, você tem que esperar muito calmamente para a pessoa certa chegar na hora certa”, conta Monica.

Quando o maestro William Coelho apareceu e os grupos de sopro e corda já estavam praticamente formados, o repertório natural era Beethoven. “Um trabalho desses é feito assim, com o idealismo de todos. E eu tenho grandes músicos que compartilham desse mesmo sonho.” 

A 10° Semana de Música Antiga da USP acontece entre 9 e 13 de setembro, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, sem número) e no Espaço das Artes (Rua da Praça do Relógio, 160), ambos na Cidade Universitária, em São Paulo. Entrada grátis. A programação completa está disponível no site do evento..

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