Pasto de pequeno proprietário nas imediações da Floresta Nacional do Tapajós, Pará, com a área de preservação ao fundo; na região amazônica, 60% a 80% das áreas desmatadas são ocupadas por pastagens – Foto: Leandro Fonseca de Souza/Cena-USP
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O metano é um dos gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. “Quando há a floresta, esse gás é retirado da atmosfera e retido abaixo das árvores, por meio de micro-organismos presentes no solo”, afirma o biólogo Leandro Fonseca de Souza, que realizou a pesquisa. “Com o desmatamento e a substituição da floresta por pastos, há emissão de metano para a atmosfera, produzido inclusive por micro-organismos, o que agrava o efeito-estufa”.
O biólogo foi até a região amazônica para medir as emissões e o fluxo de gases no solo, comparando o que acontece na floresta e nas áreas de pastagem. “Os solos amazônicos são naturalmente ácidos. A queima da floresta e incorporação das cinzas no solo reduzem essa acidez”, relata. “A medição aconteceu em áreas diferentes, no Pará e em Rondônia. Foram feitas várias medições ao longo do ano, para avaliar os períodos de seca e de chuva. Ao mesmo tempo, houve a coleta de amostras de solo para analises microbiológicas, que serviram para entender o comportamento dos micro-organismos em cada uma das áreas.”
A análise das emissões de gases confirmou que a floresta retira o metano da atmosfera, o qual é retido por micro-organismos que ficam no solo, e também demonstrou a importância dos micro-organismos junto às raízes das gramíneas neste processo. “O estudo identificou quais são esses micro-organismos e como muda sua abundância com as mudanças no ambiente”, explica Fonseca de Souza. “O objetivo é entender como o manejo da pastagem pode reduzir as emissões de metano.”
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Manejo de pastagem
A pesquisa avaliou duas dimensões do manejo de pastagem: a correção da acidez do solo e o efeito dos micro-organismos ligados às raízes das gramíneas, plantas usadas para pasto. “Corrigir a acidez afeta a capacidade do solo de incorporar metano e a presença das plantas é positiva”, ressalta o biólogo. “Os solos de pastagem na Amazônia apresentam altos níveis de degradação, ou seja, não têm boa cobertura de pasto. Melhorar a cobertura vegetal pode reduzir as emissões de metano dessas áreas.”
Solos muito ácidos são ruins para a pastagem, observa o pesquisador. “As plantas não se desenvolvem bem, então é preciso corrigir a acidez. Após a correção, em geral, as plantas de desenvolvem mais, com mais raízes e, em consequência, há menos micro-organismos que produzem metano no solo”, diz. Normalmente, a correção acontece como um subproduto das queimadas, por meio das cinzas, mas em cultivos como o de soja, que não tolera solos ácidos, é feita com a adição de calcário. “Reduzir a acidez é um passo inicial para recuperar áreas degradadas e melhorar a qualidade do solo, recolocando plantas e não deixando o solo descoberto.”
O biólogo aponta que 60% a 80% das áreas desmatadas da Amazônia são utilizadas como pasto, e 40% a 60% delas estão degradadas em algum nível. “A pesquisa trouxe indícios de que as áreas degradadas, com falhas na cobertura de pasto, emitem mais metano”, destaca. “Desmatar aumenta o impacto das emissões, mas manter um pasto bem cuidado reduz esse impacto.” A pesquisa é descrita em tese de doutorado defendida no Cena, com orientação da professora Siu Mui Tsai, e faz parte de um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em parceria com a National Science Foundation (NSF), que conta com a participação de quatro universidades dos Estados Unidos.
O trabalho do grupo foi apresentado na Rhizosphere 5.0 Conference realizada entre os dias 7 e 11 de julho, em Saskatoon (Canadá), com o título “Gramineae roots affect CH4 sequestration in tropical grassland soils”. O estudo foi um dos cinco trabalhos premiados com o Poster Award 2019, escolhidos entre 202 pôsteres apresentados por pesquisadores de 31 países.
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Infografia: Jornal da USP
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Mais informações: e-mail leandro_fonseca@usp.br, com Leandro Fonseca de Souza
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