Para OMS, segurança do paciente é de responsabilidade coletiva

Para especialista, no Brasil ainda não existe uma cultura de corresponsabilização entre usuário e sistema de saúde

 17/06/2019 - Publicado há 5 anos
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Brasil defende fortalecimento da primeira infância na Assembleia Mundial da Saúde. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta – Foto: Renato Strauss/Ministério da Saúde

A segurança do paciente foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como prioridade global na 72ª Assembleia Anual da Saúde Mundial, em Genebra. Os países realizaram um acordo histórico e concordaram com resoluções sobre cobertura universal de saúde, com foco na atenção primária. O Jornal da USP no Ar conversou com a professora Fernanda Escobar Gimenes, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, para saber mais sobre os impactos das medidas adotadas.

Uma das metas da OMS é promover mais efetivamente o acesso universal à saúde, já que isso colabora com a desejada segurança do paciente. No entanto, para que essa ampliação ocorra de fato, é necessário pensar também na qualidade dos serviços prestados em todos os tipos de assistência. A especialista explica que essa visão expandida é importante, pois “quando analisamos os dados epidemiológicos, muitas produções na última década foram focadas nos ambientes hospitalares, então pouco se sabe ainda sobre a magnitude dos problemas na atenção primária em saúde, por exemplo”. Para ampliar a conscientização sobre esses assuntos, a OMS estabeleceu o Dia Mundial da Segurança do Paciente, a ser comemorado anualmente no dia 17 de setembro. Em 2019, o tema da campanha mundial será Cultura de Segurança para Todos os Níveis de Assistência, focando na melhoria da prestação dos serviços.

A prioridade dada pela OMS também representa uma quebra de paradigmas, pois o enfoque é coletivo, ou seja, não se restringe apenas a profissionais da área e se estende também aos usuários dos sistemas de saúde. “A segurança do paciente é uma responsabilidade de todos, não só dos administradores do serviço. Partindo desse princípio, espera-se que os pacientes passem a cobrar mais qualidade nos atendimentos. O problema é que no Brasil ainda não existe essa cultura de corresponsabilização, já que, atualmente, há pouco envolvimento dos pacientes nas tomadas de decisão. Não adianta proporcionarmos as melhores tecnologias e serviços sem que exista a consciência de que o usuário também é responsável por sua própria segurança”, explica Fernanda.

Para que a segurança dos pacientes se torne uma realidade mundial é necessário melhorar a formação profissional, assim como a cultura de comunicação e transparência. “A comunicação de eventos adversos que tiveram algum desfecho grave, por exemplo, é algo a ser trabalhado. Em ambientes hospitalares, é comum acontecerem quedas ou outros problemas que podem resultar em mortes antecipadas. Diante dessas situações, os familiares devem ser envolvidos no processo, para que eles possam participar de discussões sobre as possíveis causas do evento. O objetivo é pensarmos juntos na implementação de medidas de segurança, para que situações semelhantes não se repitam no futuro. Isso quebra paradigmas, pois é deixada de lado uma cultura de punição, estabelecendo outra de transparência.”

No Brasil, já existem projetos em hospitais particulares e públicos cujo foco é a segurança e a comunicação. No entanto, o progresso nesse sentido ainda é lento, pois demanda mudanças organizacionais. Sendo assim, a professora vê como necessário o fomento de pesquisas acadêmicas nessa área e o aumento da cobrança institucional e governamental, para que os aspectos considerados pela OMS nesse novo acordo sejam seguidos e forneçam resultados positivos para o sistema de saúde.


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