Discussões sobre a sustentabilidade das grandes cidades têm se tornado cada vez mais frequentes e necessárias. Para pesquisadores da área, é fundamental que esses debates abordem a gestão e a ocupação dos recursos hídricos disponíveis nas vizinhanças de grandes comunidades urbanas. Com a finalidade de propor uma discussão aprofundada sobre o tema, o Programa USP Cidades Globais do IEA, o Núcleo de Apoio à Pesquisa de Mudanças Climáticas (Incline) da USP e a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP realizarão o evento Gestão de Bacias Hidrográficas e Sustentabilidade, na próxima segunda-feira (22).
“A Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário, definiu um conjunto de indicadores, chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, aponta o professor Arlindo Philippi Jr, da Faculdade de Saúde Pública da USP, especialista na área ambiental, ao Jornal da USP no Ar. São 17 metas, a sexta diz respeito exclusivamente à qualidade da água e saneamento. O especialista explica que, se quisermos uma melhor qualidade de vida, é necessário aprimorar nossa gestão de recursos hídricos, tanto em qualidade como em quantidade.
O professor Wagner Costa Ribeiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP, fala justamente dessa administração da água. “O Brasil tem uma política estabelecida no âmbito desde os anos 90, quando o estado de São Paulo foi inovador. Criaram-se os Comitês de Bacia, nos quais, para além do município, há representantes das unidades federativas responsáveis pela bacia hidrográfica, tal como universidades, centros de pesquisa e participação popular”, conta.
Ribeiro cita o caso exposto pela Agência Pública e a Repórter Brasil, segundo o qual um em cada quatro municípios do país tem sua água contaminada por um coquetel de 27 agrotóxicos. Para ele, isso justifica a urgência desse desenvolvimento sustentável. Ele diz que os meios de regulação, fora analisar a qualidade da água, precisam detalhar melhor os critérios técnicos, a fim de avaliar com mais precisão.
As leis também devem ter sinergia. “Ainda que haja uma legislação muito boa relativa aos recursos hídricos, se houver uma flexibilização referente ao solo, como a que liberou o uso de 170 agrotóxicos na agricultura, a qualidade da água será afetada. Essas substâncias chegam aos rios por meio da chuva e pelos lençóis freáticos. Depois a bacia verte esses contaminantes para seus afluentes. O município, normalmente responsável pela gestão, fica a reboque”, explica o especialista.
O professor Arlindo Philippi chama a atenção a respeito da falta de cobertura de eventos extremos no arcabouço legal brasileiro. Algo das proporções das mudanças climáticas é pouco trabalhado. “Nas últimas tempestades, as consequências sobre as cidades, e até mesmo perdas humanas, são relacionadas à transformação de nosso regime de chuvas. Esses transtornos chegam até mesmo à saúde”, argumenta.
Ambos os professores convidam todos ao primeiro evento do ciclo UrbanSus de 2019. Ocorrerá dias 22 e 23 de abril, das 8h30 às 17h30, na sala Alfredo Bosi, no Instituto de Estudos Avançados. Ocorrerão cinco painéis. Respectivamente sobre: águas urbanas, com especialistas e participação com o diretor da ANA, falando da gestão integrada das bacias de drenagem; os marcos da política nacional de recursos hídricos; a reflexão sobre o planejamento do uso dessas reservas e ordenamento territorial; a resistência contra as mudanças climáticas e serviços ambientais; e o uso sustentável de recursos naturais, especialmente água. As inscrições ainda estão abertas neste link e haverá transmissão ao vivo neste site.