“Revista USP” discute a religiosidade no Brasil e na Argentina

Na nova edição da revista, que completa 30 anos, especialistas analisam as relações entre religião e política na América do Sul

 11/03/2019 - Publicado há 5 anos

O número 120 da Revista USP marca seus 30 anos de existência, sempre publicando temas de interesse da sociedade brasileira e colaborando para o debate dos rumos do País. Neste número, a revista analisa um tema de grande atualidade: “Religião e Modernidade, as várias faces da religiosidade no Brasil e na Argentina”.

Segundo os organizadores da publicação, os sociólogos Reginaldo Prandi, Renan Willian dos Santos e Massimo Bonato, “se até poucas décadas atrás era natural dizer que ser ‘brasileiro’ ou ‘ser argentino’ era quase um sinônimo de ‘ser católico’, hoje já não é mais assim. Nos dois países a identidade religiosa já não é mais um sucedâneo da nacionalidade, ou da cidadania”.

Seguem os resumos (abstracts) dos sete artigos que publicamos sobre o tema nesta edição da Revista USP.

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Pluralidade cristã e algumas questões do cenário religioso brasileiro

André Ricardo de Souza

RESUMO

Em meados do século passado, o panorama religioso brasileiro começou a ser caracterizado por uma pluralidade muito notadamente cristã e um mercado competitivo entre igrejas, algo que veio a se consolidar na última década mediante a explosão neopentecostal. Desde então e até o censo de 2010, o declínio católico acompanha a acelerada expansão evangélica, tendo havido também grande aumento dos sem religião. No presente decênio, verifica-se com mais nitidez outros fatores responsáveis pelo crescimento pentecostal, bem como dois dados novos e expressivos: considerável refreamento na proliferação dos irreligiosos e grande crescimento do espiritismo. Além disso, nota-se o acirramento da intolerância em relação aos adeptos dos cultos afro-brasileiros e algumas significativas manifestações contrárias, com caráter ecumênico.

Palavras-chave: pluralidade cristã; crescimento evangélico; mercado religioso; avanço espírita; intolerância religiosa.

Igrejas evangélicas como máquinas eleitorais no Brasil

Reginaldo Prandi, Renan William dos Santos e Massimo Bonato

RESUMO

O artigo compara as relações de religiões brasileiras com a esfera política a partir de dois planos distintos: o das concepções políticas dos fiéis e o da atuação eleitoreira das igrejas. São utilizados como fonte principal dados de uma pesquisa nacional de opinião conduzida no ano de 2016 pelo Instituto Datafolha. Procuramos compatibilizar aqui o diagnóstico sociológico de avanço da modernidade religiosa, a partir do qual a religião em seus moldes tradicionais se torna cada vez mais sujeita a bricolagens de fiéis alheios às regulações institucionais, com a constatação do crescente poder de influência eleitoral de igrejas evangélicas em comparação com as demais instituições religiosas.

Palavras-chave: religião e política; orientações religiosas; igrejas evangélicas; eleições no Brasil; secularização.

 

Eleições presidenciais na América Latina em 2018 e ativismo político de evangélicos conservadores

Ricardo Mariano e Dirceu André Gerardi

RESUMO

Outrora interpretado como baluarte da modernidade cultural e econômica, o protestantismo, no início do século XX, formou cismas fundamentalistas e pentecostais que, posteriormente, sobrepujaram as vertentes liberais, difundiram-se pelo mundo e desaguaram na nova direita cristã. Na América Latina, onde já alcançam um quinto da população, grupos evangélicos transformaram o campo religioso, formaram bancadas parlamentares e partidos. Este artigo trata, de forma sumária, do ativismo político evangélico conservador nas eleições presidenciais em 2018 de Costa Rica, Colômbia, Venezuela, México e Brasil. Em defesa da “família” e da “vida”, lutam para conformar o ordenamento jurídico aos valores morais da “maioria cristã”, empreendendo cruzadas contra aborto, políticas igualitárias e anti-homofóbicas, educação sexual e a suposta doutrinação ideológica e de “gênero” nas escolas.

Palavras-chave: evangélicos; Brasil; América Latina; eleição presidencial; política.

 

A cruz da questão: o uso de argumentos laicos na permanência de símbolos católicos em locais públicos brasileiros

Guilherme Borges

RESUMO

O foco deste trabalho está em observar discursos de bispos católicos proferidos em reação à possibilidade de símbolos religiosos serem retirados de estabelecimentos públicos. Para isso, são observadas respostas do Episcopado ao 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), lançado pelo governo federal brasileiro em finais de 2009. Entre os itens do documento, consta a proposta de impedir a ostentação de signos confessionais em recintos da União. Ao analisar os argumentos eclesiásticos, salta aos olhos como a “arma da cultura” é acionada nessa controvérsia. Trata-se de uma abordagem que se distancia dos modelos discursivos historicamente adotados pela Igreja no Brasil. Não se questiona a laicidade do Estado, como era feito outrora, nem se lança mão do catecismo ou das “leis de Deus”.

Palavras-chave: religião; política; Igreja católica; símbolos religiosos; direitos humanos.

 

Os imaginários religiosos na cultura política argentina

Juan Cruz Esquivel

RESUMO

O artigo se propõe a refletir sobre os entrecruzamentos na religião e na política, instalados nos debates conceituais em torno da secularização e da laicidade. Partindo da premissa que supõe considerar a religião como dimensão pública, interessa aqui analisar os imaginários religiosos na cultura política argentina.

Para isso, entrevistou-se meia centena de deputados(as) nacionais, com o objetivo de indagar sobre suas trajetórias, seus âmbitos de formação e socialização, seus percursos na militância e na função política; sobre suas crenças religiosas; e suas percepções e avaliações sobre a presença da religião no espaço público em geral e na educação em particular, o vínculo entre os grupos religiosos e o Estado e a influência das convicções religiosas nas decisões parlamentares.

Palavras-chave: política; religião; deputados nacionais; Argentina.

 

Relações perigosas: os intelectuais católicos e a Igreja argentina

Diego Mauro e José Zanca

RESUMO

O intelectual foi uma das figuras características do século XX. A categoria foi associada, em suas origens, a uma cultura política afastada da religião –o anticlericalismo era majoritário entre os dreyfusards. Nas décadas seguintes, o termo se expandiu para outros grupos ideológicos e espirituais. Este artigo analisa ensaisticamente a formação progressiva e a transformação de um campo intelectual católico entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A partir dos debates que acompanharam o surgimento e desenvolvimento da revista Criterio, o texto visa a compreender as especificidades do intelectual católico, em diferentes situações, e as ligações tecidas com as autoridades da Igreja no contexto dos vários projetos de organização dos leigos que este lançou.

Palavras-chave: intelectuais católicos; política; religião; Argentina.

 

A formação do Estado e a Igreja no Rio da Prata: uma combinação de escalas de análise

Ignacio Martínez

 

RESUMO

Este artigo combina diferentes escalas de análise para estudar processos de secularização em contextos de desarticulação e rearticulação de jurisdições políticas e eclesiásticas, associados à consolidação de soberanias e instituições modernas durante o século XIX. Reflete-se a partir de dois problemas pesquisados no espaço rio-platense: a) os inconvenientes que os experimentos republicanos apresentaram para construir uma soberania que incluísse faculdades eclesiásticas similares às da monarquia hispânica, englobadas no patronato régio e b) os atores e interesses envolvidos no processo de romanização da Igreja Católica nesse espaço.

Palavras-chave: Argentina; secularização; romanização; confederação; federalismo.

 


Na seção Textos, esta edição da Revista USP publica artigo de fôlego do professor e fotógrafo Boris Kossoy. Ele prova, em um dos artigos mais longos da história da revista, que o daguerreótipo chegou ao Brasil no século 19, antes do que é admitido historicamente.

Revertendo uma decisão anterior, os textos da Revista USP deixam de ser publicados em HTML na sua versão digital. A experiência ensinou que a versão PDF é mais adequada para esse tipo de publicação.


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