O jornalismo de Francisco Costa está na trajetória da "Revista USP"

Jornalista esteve à frente da publicação durante três décadas e lançou 120 edições

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25/07/2019

Texto: Leila Kiyomura
Arte: Beatriz Abdalla

Francisco Costa é editor da Revista USP. Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

O jornalista Francisco Costa: o desafio de levar a cultura e a ciência através da Revista USP  – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Quando conta a sua história, o jornalista Francisco Costa faz questão de lembrar a trajetória da Revista USP. E se orgulhar de sempre ter participado dela, desde a elaboração da primeira edição, em março de 1989, na gestão do ex-reitor José Goldemberg, continuando por mais de três décadas à frente de uma publicação pioneira que tem o desafio de levar a ciência e a cultura da USP para todo o País e também para o exterior. Inúmeros colaboradores que hoje lecionam em universidades de diversos países fazem questão de divulgar a Revista USP.

Paulista de Araraquara, Francisco Costa, ou Chico, como faz questão de ser chamado, conhecia a Universidade como estudante. “Levei nove anos para me formar no curso de Letras. Não pensei em voltar para a Universidade, fui fazer Jornalismo na Cásper Líbero. Trabalhei na revista Leia Livros e no suplemento Folhetim da Folha de S. Paulo. Aí surgiu o convite para participar da primeira edição da Revista USPGostei muito da ideia, uma revista acadêmica interdisciplinar, que foi a primeira em aliar todas as áreas”, recorda. “Acabei voltando para a USP e com a revista encontrei um caminho inovador de aprendizado humano, um exercício cotidiano da ética, respeito e de muita seriedade para divulgar a produção da Universidade de São Paulo, uma das mais importantes do mundo.”

Chico assinala que a Revista USP nasceu em mãos experientes. “O conselho editorial era integrado por professores como Boris Schnaiderman, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Décio de Almeida Prado, da Escola de Comunicações e Artes; Fernando  Castro Reinach, do Instituto de Bioquímica, Henrique Fleming, do Instituto de Física, Regina Meyer, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e Julio Medaglia, maestro, contatado para um curso sobre Trilha Sonora na Escola de Comunicações e Artes.”

O jornalista nos anos iniciais da sua trajetória como editor da Revista USP – Foto: Arquivo pessoal

Esse primeiro conselho  foi o responsável pela idealização e manutenção da Revista USP. “Eles permaneceram trabalhando de 1988 até fins de 1994. Importante lembrar também a participação dos professores Celso Lafer, Renato Janine Ribeiro e Ruth Cardoso. E todos os demais conselhos sempre contaram com a participação dos grandes mestres da Universidade em todas as áreas.”

“A Revista USP sempre foi um grande desafio. Veja só, cada número é quase monotemático, com seu dossiê específico. É preciso um pouco de 'topete' para escrever sobre tantos assuntos diferentes e, ao mesmo tempo, agradáveis.”

O primeiro dossiê já teve como meta instigar a reflexão. “Foi uma efeméride”, lembra Chico. “O primeiro dossiê foi sobre a Revolução Francesa. E mostrou a que vinha a revista. Diferente das outras publicações científicas, a sua proposta editorial era buscar o leitor de todas as áreas.”

“A Revista USP sempre foi um grande desafio. Veja só, cada número é quase monotemático, com seu dossiê específico. É preciso um pouco de ‘topete’ para escrever sobre tantos assuntos diferentes e, ao mesmo tempo,  agradáveis.”, diz o editor, orgulhoso.

Com seu jeito tranquilo, experiência e dedicação pelo trabalho, Francisco Costa despertou a confiança dos professores e pesquisadores, ampliando o interesse por  participação nas páginas da revista. Algumas vezes foi criticado por tratar os especialistas sempre pelo primeiro nome, porém com respeito. “Lembro que, nas primeiras reuniões do conselho, fiquei constrangido. Não sabia se chamava o pesquisador de professor ou de senhor, até o dia em que o presidente do conselho, o Professor Emérito Décio de Almeida Prado, me olhou e disse: ‘Trate todos por ‘você’ e pelo primeiro nome. E você, para nós, é o Chico.”

Francisco Costa recebendo o Prêmio ABCA – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Daquele dia em diante, as reuniões passaram a ter um tom menos acadêmico, mais coloquial. “Décio era são-paulino roxo em uma época em que o São Paulo levava todas. Mas teve um dia em que o seu time do coração perdeu. Ele tinha uma paixão pelo futebol. No segundo dossiê, com o tema ‘Tempo’, escreveu um texto memorável sobre O tempo e o espaço no futebol. O artigo foi republicado no dossiê número 22,  intitulado ‘Futebol’.

Os anos se passaram e a Revista USP foi se concretizando, trazendo temas pouco explorados pelas publicações acadêmicas, como “Magia e Razão/Desrazão”, mantendo em 119 edições debates polêmicos como politicamente correto, pós-verdade e jornalismo, direitos humanos, religião e modernidade, democracia na América Latina, americanistas e interculturalidades, além de homenagens como o dossiê “100 Anos de Antonio Candido”.

“Nós recebemos nesta semana a nota máxima, A1, no Qualis Referência para as publicações em todas as áreas, entre 2017 e 2018.”

Mesmo em tempos de publicações especializadas on-line, a Revista USP, publicada pela Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, manteve a sua edição impressa, com circulação trimestral. Porém, conta também com a versão on-line disponível na página do Jornal da USP.

A história da Revista USP foi o tema da dissertação de mestrado de Chico Costa na Escola de Comunicações e Artes. Uma trajetória reconhecida com diversos prêmios, entre eles o da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), em 2015, pela seção “Arte”, que traz artigos sobre a arte contemporânea brasileira escritos por críticos especializados de diferentes universidades do País. “Eu me sinto honrado com a repercussão da Revista USP e o seu trabalho em prol do desenvolvimento científico e cultural, a nossa meta de sempre”, diz Chico.

Chico Costa deixa a sua função de editor da Revista USP e também de jornalista da Universidade de São Paulo. Porém, o seu trabalho de mais de três décadas é reconhecido com um mérito, da maneira que sempre almejou.  Anuncia: “Nós recebemos nesta semana a nota máxima, A1, no Qualis Referência, para as publicações em todas as áreas, entre 2017 e 2018. É a maior nota que pode ser alcançada por um periódico acadêmico-científico avaliado pela Capes (Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)”. A avaliação da Capes, ainda provisória, foi anunciada pelo Jornal da USP (leia aqui).

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