Na última terça-feira (26), cientistas e especialistas em bioética no mundo todo ficaram chocados com o anúncio de um geneticista chinês. He Jiankui anunciou ter criado os primeiros bebês geneticamente editados, através da técnica denominada CRISPR, sigla em inglês de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats.
![](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/11/20181126_genetica_bebes.png)
Nesta edição de Decodificando o DNA, Mayana Zatz comenta o anúncio, explicando por que, em sua visão, não se trata de um procedimento em acordo com a ética médica nem científica. Em primeiro lugar, o suposto experimento foi feito com bebês saudáveis – duas gêmeas, filhas de mãe saudável e pai soropositivo – que tiveram seu genoma alterado para que uma mutação as tornasse resistentes aos efeitos do HIV, o vírus da Aids. A professora defende que a edição gênica seja utilizada apenas para tratar doenças, como já acontece experimentalmente, com adultos portadores de doenças terminais que podem se beneficiar da terapêutica.
Mais que isso, a técnica ainda não está suficientemente desenvolvida, e nada garante que no processo não tenham sido afetados outros genes, deixando as crianças predispostas a desenvolver tumores, por exemplo: “Para fazer uma analogia, seria como mirar no bandido e sobrarem várias balas perdidas para inocentes em volta”. E é por isso que a legislação da maioria dos países veta a prática fora de casos experimentais específicos.
Clique no áudio acima para ouvir a geneticista do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP.