Instalação “Caos” questiona os problemas da mobilidade urbana

Em cartaz no Museu de Arte Contemporânea, obra reflete sobre o espaço do ser humano entre milhões de veículos

 10/09/2018 - Publicado há 6 anos
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A instalação Caos, de Eduardo Srur: os 4 mil carrinhos de brinquedo utilizados na obra serão partilhados depois da mostra – Foto: Eduardo Srur

A sensação sufocante do nosso dia a dia atravessando a cidade no meio de paredões de carros está na instalação Caos, criada por Eduardo Srur. São dois grandes muros paralelos construídos no pátio do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. No meio, há uma passagem apertada por onde o visitante pode passar. Esses paredões de 6,4 x 3,3 metros foram edificados com 4 mil carrinhos de brinquedo, de diversas cores e todos amontoados.

Com essa instalação, Srur provoca a reflexão sobre a mobilidade urbana. Ou seja, qual é o espaço para o ser humano em São Paulo, diante de um trânsito de cerca de 8 milhões de veículos?

Paulistano, Srur está sempre questionando os problemas urbanos e incitando as pessoas a refletir sobre o seu papel como cidadãs através de sua obra. “Sou um artista que gosta de lidar com os erros de São Paulo. Adoro a cidade, mas é cheia de erros e também de oportunidades”, explica. “E é exatamente nesses erros que o artista interfere, incitando a observação e o pensamento do cidadão.”

Em entrevista ao Jornal da USP, Srur, que na última década passou a utilizar a cidade como plataforma de sua arte, conta que a instalação Caos marca a sua volta para um espaço institucional. “Estou gostando muito de estar aqui com uma instalação na entrada do MAC, depois de uma trajetória de intervenções em espaços não explorados pela arte”, conta. Embora a instalação sugira uma comparação com o momento caótico da cidade, o artista ressalta que a obra não é uma crítica. “A proposta é uma obra contemplativa, lúdica. Tem uma aderência na questão do caos, mas convida o público a entrar em um corredor de passagem da cidade para a arte e da arte para a cidade.”

Importante entender que o artista não tem fronteiras. Está sempre um passo adiante.”

Com uma carreira iniciada na pintura na década de 1990, Eduardo Srur passou, nos anos 2000, a utilizar a cidade como a plataforma de sua arte. “As intervenções, na minha história, surgiram por dois motivos: primeiro, porque o circuito artístico era muito limitado e, segundo, porque eu tinha uma urgência de expressão, de manifestação”, explica. Quando identificou as ruas e parques como espaço de criação, Srur descobriu que podia navegar entre as linguagens. “Passei a utilizar vídeo, instalação, escultura, pintura e comecei a criar estratégias de negociação com a sociedade, empresas, poder público, que me ajudavam a viabilizar essas intervenções.”

Srur já plantou um eucalipto de dez toneladas de ponta cabeça no Parque do Ibirapuera, com as raízes para cima. Seu objetivo foi apontar o descaso diante de centenas de árvores que caem na cidade de São Paulo. A intervenção, em 2015, teve o nome de Árvore Caída. “A arte pode ser brutal e poética, imponente e delicada, mas é capaz de transformar a realidade e reconectar o homem à natureza.”

A obra de Eduardo Srur: passagem entre a instalação – Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

“Esse eucalipto, assim como tantos da metrópole, tombaram durante as fortes chuvas de verão”, explica. “É uma grande perda para a sociedade e para o equilíbrio ambiental.”

Outra intervenção que chamou a atenção da população foi Mercado, em 2016, quando espalhou carrinhos gigantes em pontos estratégicos da cidade. “Essas esculturas de metal espalhadas pelas ruas da maior cidade da América Latina destacaram a urgência de mudança nos hábitos de consumo, que dominam o modelo de vida contemporâneo e impactam a natureza.”

Srur criticou também a poluição do rio Pinheiros, procurando despertar a conscientização para a sua recuperação. Defendeu ainda a importância da reciclagem com a instalação Labirinto, apresentada nos principais parques da cidade. “O espectador era convidado a entrar em um labirinto buscando a saída entre paredes de resíduos sólidos, que o colocavam frente a frente com o lixo que produz.”

Para o artista, as intervenções pela cidade, segundo a sua própria experiência, criam um curto-circuito na arte contemporânea. “Importante entender que o artista não tem fronteiras. Está sempre um passo adiante, buscando formas e condições para realizar o seu trabalho.”

Assim que a mostra for encerrada, no dia 10 de dezembro, os carrinhos de brinquedo serão doados e compartilhados com o público.

Eduardo Srur: “A arte não tem fronteiras” – Foto: Fisheye Image Solution

A instalação Caos, de Eduardo Srur, fica em cartaz até 10 de dezembro, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no pátio do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.


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