O uso medicinal do canabidiol ainda esbarra na padronização dos extratos

Alguns extratos avaliados por pesquisadores apresentaram alto teor de THC, o que pode intoxicar, e nem 5% de CBD, necessário para uso terapêutico

 15/08/2018 - Publicado há 6 anos
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O programa Saúde sem Complicações desta semana traz entrevista sobre o uso medicinal do canabidiol, substância extraída da Cannabis sativa, popularmente conhecida por maconha, com o pós-doutorando do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Rafael Guimarães dos Santos.

Santos é biólogo, mestre em Psicologia e doutor em Farmacologia, com pesquisas na área de substâncias psicoativas, com ênfase no estudo das alucinógenas. Ele explica que a Cannabis é uma planta como várias outras que produzem substâncias químicas. O canabidiol (CBD) é apenas uma entre as mais de 400 substâncias que a maconha pode produzir. Além do canabidiol tem o tetra-hidrocanabinol (THC), a substância usada para recreação, com efeitos na memória, falta de coordenação, olhos vermelhos, entre outros. “O CBD não produz efeitos alucinógenos e  estudos em humanos já revelaram que ele reduz ansiedade, por exemplo. Resumindo, a maconha é a planta e o THC e o canabidiol são substâncias da planta.”

O pesquisador lembra que a polêmica sobre canabidiol hoje no País se dá em função da precariedade na padronização dos extratos, que não têm controle de qualidade. Ele alerta que as pessoas acabam tendo a ideia equivocada de que o produto que vem do exterior é sempre bom, mas pode não ser verdade. “Tanto na USP em Ribeirão Preto, como em outros centros de pesquisas, que já avaliaram alguns desses extratos, não foram encontrados nem 5% de CBD como anunciado.  Por outro lado, apresentam alto teor de THC, que pode intoxicar as crianças.”

Santos enfatizou que o THC também tem efeito terapêutico, entretanto, pode produzir os efeitos psicoativos da maconha e não se sabe quais serão os efeitos a longo prazo, diferente do canabidiol que tem um efeito mais seguro. “Nossa preocupação é que as pessoas tenham acesso a produtos padronizados.” O pesquisador lembrou que não são todas as crianças que respondem ao tratamento com canabidiol, que ele é apenas um coadjuvante no tratamento e que os pais não devem interromper o uso de outros medicamentos prescritos pelos médicos.

O grupo ao qual pertence Santos, na USP em Ribeirão Preto, está estudando os efeitos do canabidiol para alguns sintomas do Parkinson, considerada uma doença neurológica bastante complicada. No Parkinson, diz Santos, alguns neurônios são danificados e aparecem sintomas clássicos, como o tremor. “Mas tem também os não motores, como a depressão, os transtornos do sono e os sintomas psicóticos. Estudos já revelaram que para esses sintomas o canabidiol tem efeito terapêutico, com melhora na qualidade de vida e redução do preconceito com o comportamento do portador de Parkinson.”


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