Assim sendo, proponho fazermos um pequeno exercício de revisão nas falas – lembrando um sem-número de lapsos cometidos, principalmente por comunicadores profissionais e entrevistados em programas de rádio e televisão que pudemos captar, além de idênticos exemplos que os leitores laboriosamente detectaram e ofereceram à nossa coluna.
Aproveito, também, a oportunidade para abordar um daqueles novos rumos, prometidos no cabeçalho dos artigos recentes, qual seja, a mudança no critério de discussão do projeto, inicialmente previsto apenas para profissionais em atividade e, agora, pronto a acolher os demais interessados na discussão da ideia aqui apregoada: contribuir para a proteção do nosso idioma, introduzindo nos meios eletrônicos a figura do Revisor de Falas. Isto posto, vamos recorrer à lista de tópicos registrados até esta data e comentá-los.
Logo no início deste projeto, apresentamos um exemplo de casos que mereciam particularmente a nossa atenção: foi o uso impróprio do (por assim dizer) duplo sujeito nesta frase: “As mulheres… elas precisam saber… etc.” em lugar de, simplesmente “As mulheres precisam saber…”. Trata-se de um erro (ou vício) que conquistou um grande número de imitadores de diferentes idades e dentro da mais variada escala social e profissional. Prestem atenção na maneira de se expressar de importantes figuras do nosso mundo político e confirmem. (Em tempo: se, neste caso específico, a pessoa entender que o início da sua frase ficou muito fraco, muito direto… pode mudá-lo para, por exemplo: “Quanto às mulheres, elas precisam saber… etc.” e, assim, superar o erro.)
Outra falha, possível de se detectar nas falas ao microfone:
— Grande quantidade de pessoas se reúne… etc. O certo, claro, é dizer: “Grande número de pessoas se reúne… etc.” Deixemos “quantidade” para coisas, bichos etc.
Temos anotado, ainda, o espantoso aumento do uso da expressão “a gente”. A gente fez tal coisa… A gente resolveu… como se tratasse de ação impessoal, desprezando-se o autor ou autores, enquanto o ouvinte ou telespectador deseja é saber quem, ou que entidade é responsável por determinada providência. A propósito, um dia desses, um apresentador de TV, em uma só frase, usou por três vezes a desgastada expressão que acabamos de registrar. Não é mesmo para a gente se alarmar?
Outra questão recorrente é o “ir” e “vir”. Constitui verdadeira armadilha para algum desavisado cometer um “vai vim” ou “vai vir”, apenas para não parecer pedantismo dizer “virá”… esquecendo-se do salvador vem! (Já que vem, ainda não veio: vem. É futuro! É um milagre o que faz esse verbo!).
Agora, um fato que é impossível deixarmos de ressaltar: há muito tempo estamos desprezando o erre na conjugação dos verbos no infinitivo. Isto é, estamos jogando fora o sonoro erre, invejado pelos estrangeiros interessados em falar português. Admitam: dá tristeza ouvir: fazê, levá, escrevê, comprá. Imaginem, então, se também tratássemos a escrita com a mesma irresponsabilidade… E aí está o ponto que vale ressaltar: estamos analisando falas e não textos – justamente a forma de se expressar válida no tipo de prova a que nos referimos no começo. Esquecer o erre no infinitivo é admissível somente numa narrativa em tom coloquial, para, por exemplo, indicar o nível cultural de um ou mais personagens. Os examinadores simplesmente não podem perdoar tal erro.
Por fim, é bom considerar o risco de “desaprender” parte do que foi memorizado ano após ano, nas lições de redação, para aderir aos modismos e chavões que ofendem o vernáculo nos meios de comunicação de massa.
Comentário: entramos, portanto, em um dos prometidos Novos Rumos. Convidamos os leitores a contribuírem com exemplos semelhantes aos que estamos apontando desde o início de “Revisão nas Falas”.