Na coluna Ciência e Cientistas, o físico Paulo Nussenzveig, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Física (IF) da USP, fala sobre a redação científica. “Cientistas frequentemente ouvem que devem escrever bem. Mas o que significa escrever bem? Existe consenso que a apresentação deve ser a mais clara possível, exigindo do leitor o mínimo esforço para a compreensão das ideias”, afirma. “Será que isso exclui, no entanto, a possibilidade de utilização de figuras de linguagem, de imagens metafóricas, de noções de beleza do texto, de senso de humor?”
Um dos exemplos de “boas imagens e redação inspirada” que “cativam os leitores e tornam os resultados memoráveis”, citado pelo professor, é a divulgação dos resultados de uma pesquisa sobre resfriamento de átomos por luz laser. “Alguns grupos experimentais observaram temperaturas mais baixas do que o limite previsto teoricamente (violando a lei mais fundamental da natureza, a lei de Murphy!). Dois grupos explicaram os resultados: um dos EUA e outro da França, conta. “O grupo dos EUA utilizou um método matemático ‘de força bruta’. O grupo francês apresentou uma imagem física e comparou à história de Sísifo, da mitologia grega, que foi condenado a sempre rolar uma rocha montanha acima. Ao chegar ao topo, a rocha caía e ele era obrigado a começar de novo. O processo ficou conhecido como resfriamento Sísifo.”
O físico observa que artigos científicos costumam ter seções finais, de agradecimentos, menos visadas pelo escrutínio de revisores e editores. “Os agradecimentos muitas vezes trazem preciosas surpresas”, diz. “Por exemplo, dois pesquisadores da Universidade de Colúmbia, nos EUA, fãs do clube de futebol Barcelona, conseguiram inserir ‘Visca el Barça!’ num artigo”.
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