Crise financeira volta a ser foco no debate de candidatos a reitor

As quatro chapas se reuniram no dia 11 de outubro, em Ribeirão Preto, para discutir propostas para a USP

 16/10/2017 - Publicado há 7 anos
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Candidatos durante debate realizado em Ribeirão Preto – Foto: Rosemeire Talamone/Jornal da USP

O segundo debate entre os candidatos a reitor e vice-reitor da USP foi em Ribeirão Preto, na última quarta-feira, 11 de outubro. Cerca de 200 pessoas participaram do evento, que foi mediado pelo jornalista Marcos Frateschi, da Rádio CBN e grupo EPTV. O encontro foi transmitido ao vivo pelo IPTV USP e pelo canal no YouTube da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI) e pode ser assistido na íntegra pelo link.

Assim como o debate ocorrido em São Carlos, em Ribeirão Preto a discussão girou em torno da situação financeira da Universidade. Duas das chapas criticaram as medidas adotadas pela atual gestão para o equilíbrio financeiro e a relação com a comunidade. Já outras duas disseram que foi feito o que era necessário. Como definido pela Comissão Eleitoral, cada chapa teve dez minutos de apresentação e, em seguida, responderam a quatro questionamentos do público compilados pelo mediador.

Além da questão financeira e do fundo de reserva que a USP possui, as perguntas mencionaram o modelo de gestão, manutenção da qualidade em ensino e pesquisa, valorização de recursos humanos, democratização das eleições, terceirizações, situação das creches, ampliação de vagas, inclusão e garantias de permanência estudantil, violência e discriminação de gênero e racial e, finalmente, ações práticas para contribuição social.

Apresentação

Pela ordem de sorteio, a primeira chapa a se apresentar foi a 2, formada pela professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e Paulo Borba Casella, da Faculdade de Direito, candidatos a reitora e vice-reitor, respectivamente. Maria Arminda falou de sua participação na gestão anterior e de sua decepção com a gestão atual.

“Houve um desmonte da área de cultura e extensão pelas promessas não cumpridas”, diz, assegurando que um futuro mandato seu se pautará pelo debate em todos os níveis e pela retomada “dos valores que deixaram de ter força”, como os humanos no conjunto da USP, e na relação da Universidade com a sociedade. O programa de sua chapa, afirmou, “não sufocará a Universidade com excesso de normas”, mas terá como guia o maior patrimônio da USP, que são seus recursos humanos, científicos e culturais, e tratará a USP como uma instituição social – um microcosmo da sociedade – que não pode mais perder cérebros, pois “equilíbrio orçamentário é fundamental, mas é diferente de financeirização”.

A segunda chapa a se apresentar foi a 1, formada pelos professores Vahan Agopyan, da Escola Politécnica, candidato a reitor, e Antonio Carlos Hernandes, do Instituto de Física de São Carlos, candidato a vice-reitor. Para o professor Agopyan, a USP conseguiu vencer a crise e melhorar todos os indicadores de qualidade de ensino e pesquisa porque tem competências para isso.

Essas competências, disse o candidato, “vêm de recursos humanos de excelência que a Reitoria tem a responsabilidade de continuar motivando”. Ele considerou a valorização de docentes e funcionários “fundamental para vencer os futuros desafios” e que a carreira dos funcionários precisa de preparação para ser retomada. Segundo Agopyan, os professores devem contar com a retomada da progressão horizontal e sua gestão investirá no apoio aos novos professores e “atuará na derrubada do teto salarial”. Em relação aos alunos de graduação, mencionou a importância de trabalhar a permanência estudantil. Já o professor Hernandes falou da valorização das unidades e da descentralização das decisões, com democratização. “Estamos prontos para evoluir”, ressaltou.

A terceira chapa a se apresentar foi a 3, formada pelos professores Ildo Luís Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente, candidato a reitor, e Tércio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, candidato a vice-reitor. Sauer disse que a USP caminhou da euforia, na época do ex-reitor João Grandino Rodas, à implosão na atual gestão.

Ele reconheceu que ocorreram avanços na atual gestão, mas que os problemas da Universidade transcendem a crise financeira. “Precisamos de diálogo. Foram lamentáveis e inaceitáveis as cenas de violência que testemunhamos recentemente.” Para Sauer, é necessário um balanço duro do que é preciso ser feito. “A impressão é de desânimo geral, a culpa da situação atual não é do servidor, mas dos processos implantados. É necessário nova liderança para a reconstrução da sua imagem, com nova forma de relacionamento interno e com a sociedade.”

A última chapa a se apresentar foi a 4, formada pelos professores Ricardo Terra, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e Albérico Borges Ferreira da Silva, do Instituto de Química de São Carlos, candidatos a reitor e vice-reitor, respectivamente.

Terra afirmou que deseja manter e ampliar as atividades da atual Reitoria. Avaliou a situação financeira do momento da USP como resultado da anterior “gestão desastrada”. De acordo com o candidato, a futura administração deve manter o controle financeiro e implantar a avaliação de recursos humanos que “leva em consideração a diversidade de competências e não apenas a produção científica”. Disse que a gestão universitária não pode ser feita com base em política, “não se trata de uma minissociedade política, a USP tem que ser modelo. Não estamos tratando de um conjunto de promessas”.

As quatro chapas se reuniram para debater propostas para a Universidade – Foto: Rosemeire Talamone/Jornal da USP

Perguntas

A crise financeira esteve presente em duas das três perguntas do público. A plateia questionou como os candidatos viam a possibilidade de parcerias público-privadas, as PPPs, na gestão da Universidade, manutenção da qualidade do ensino e pesquisa, das creches e do financiamento da permanência estudantil. Também foram mencionadas a democratização das eleições na USP, ações para inibir a violência e a discriminação de gênero na Universidade, além de práticas que melhorem a participação da USP nas políticas públicas.

Agopyan, assim como os demais candidatos, afirmou que modelo de gestão da USP não prevê as PPPs. Ele e seu vice, Hernandes, lembraram que essas parcerias só são possíveis em projetos específicos. O candidato a reitor ressaltou que é preciso manter o controle orçamentário, mas quantidades de contratações devem ocorrer tanto para docentes quanto funcionários.

Ele lembrou que a expansão da USP na última década foi necessária e que gastos descontrolados não são de responsabilidade de uma categoria profissional. Avaliou que o plano de carreira colocado em prática na última gestão foi bom, mas que seus gastos não levaram em conta a economia, com o decréscimo da arrecadação do ICMS, por exemplo. “A próxima gestão deverá dar atenção à aposentadoria docente e retomar a política de valorização e contratações de recursos humanos, de forma responsável.”

Para Ildo Sauer, as PPPs na Universidade são “incabíveis, pois parcerias assim levariam os recursos da USP a atender interesses privados”. Sobre a contratação de professores terceirizados, o candidato vê “como um processo que dinamita a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão na Universidade”.

Ele lembrou que os recursos humanos são a “maior riqueza da USP” e que a Universidade deve procurar solução para o quadro complexo da carreira docente, a questão dos aposentados e a necessidade de professores novos. Sobre o plano de demissão voluntária dos funcionários, disse que algumas unidades foram “duramente atingidas”. Como forma de reduzir custos da instituição, Sauer cita as compras compartilhadas como uma das soluções.

A chapa liderada por Ricardo Terra também refutou a adoção de PPPs na Universidade e prometeu que novas soluções para reposições de claros serão encaminhadas com a aproximação da administração central com as unidades. “O diálogo será a tônica tanto com a comunidade interna quanto com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Essas comunicações têm que existir mais.”

Em relação à reserva de vagas, afirmou que a “USP precisa estudar mais as necessidades dos alunos que ingressam beneficiados pelos programas de cotas – sociais ou raciais”. Quanto às violências e discriminações, o candidato se diz preocupado com a “existência de certa barbárie” e quer rápida reforma e colocação em prática dos códigos disciplinares e de ética da USP. “A violência destrói, precisamos urgentemente estabelecer políticas de transformação cultural.”

Maria Arminda lembrou que a Universidade é laica e voltada ao coletivo e que seu modelo não pressupõe parceria público-privada, entretanto, na pesquisa, já existem PPPs e elas podem ser aprofundadas.

“A implementação da progressão horizontal para docentes deve ser retomada imediatamente, pois tem impacto financeiro pequeno. Já a carreira dos funcionários precisa sair do papel. Os treinamentos de funcionários têm que ser permanentes; as creches cumprem papel de inclusão e é um direito que precisa ser cumprido e têm impacto financeiro pequeno”. Ela defendeu que o Hospital Universitário continue sob a gestão da USP e que é preciso procurar parcerias para manter direitos.

Por: Rita Stella e Rosemeire Talamone

 


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