Arte e ciência promovem aprendizado sobre biomas brasileiros no Parque Cientec

No Parque de Ciência e Tecnologia da USP, no bairro da Água Funda, seis conjuntos expositores com pintura em vidro representam cada um dos biomas que podem ser observados através de realidade aumentada com uso de celular ou tablet

 Publicado: 22/04/2024

Artes do Projeto Biomas do Brasil criadas pela artista Ju Barros - Foto: Divulgação/Ju Barros

O Brasil é responsável pela gestão do maior patrimônio de biodiversidade do mundo: são mais de 120 mil espécies de invertebrados e aproximadamente 8930 espécies de vertebrados (734 mamíferos, 1.982 aves, 732 répteis, 973 anfíbios, 3.150 peixes continentais e 1.358 peixes marinhos), das quais 1.173 estão listadas como ameaçadas de extinção. Para sensibilizar e instigar a reflexão sobre a devastação e destruição dos ecossistemas, a artista plástica Ju Barros criou o Projeto Biomas do Brasil, que pode ser visto em exposição no Parque de Ciência e Tecnologia da USP, o Parque Cientec, localizado no bairro da Água Funda, em São Paulo. 

A exposição conta com seis painéis de mosaicos com pintura em vidro, cada um deles representando um bioma brasileiro: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa, e uma das espécies nativas do bioma, que está na lista das espécies ameaçadas de extinção. Segundo o jornalista e crítico de arte Oscar D’Ambrosio, doutor em Educação, Arte e História da Cultura e mestre em Artes Visuais, que assina a curadoria da mostra, “o conjunto estimula a parar a destruição da biodiversidade natural e conscientiza sobre a necessidade de curar e restaurar os ecossistemas destruídos”. Para ele, as composições visuais de Ju Barros, ao representarem espécies animais e vegetais características ou endêmicas, valorizam as cores, as formas e a resiliência da natureza.

Exposição do projeto Biomas do Brasil no Parque Cientec - Foto: Divulgação/Cientec

O Projeto Biomas do Brasil tem concepção e execução da artista e alia arte, tecnologia e educação, contribuindo para a ampliação da consciência coletiva propiciada pelas manifestações artísticas. Segundo ela, cada obra do projeto está associada a um painel informativo, que traz dados sobre o bioma correspondente e da espécie animal representada. Além disso, as obras podem ser visualizadas através da realidade aumentada. 

O observador pode utilizar dispositivos eletrônicos, como aparelhos celulares e/ou tablets, para visualizar animações dos elementos presentes em cada obra e interagir com eles. As animações são visualizadas na tela do dispositivo ao apontá-lo para o QR Code da obra.

“Mais uma vez, investimos na união entre arte e ciência, buscando promover a aprendizagem e o encantamento de nosso público”, afirma a professora Suzana Ursi, diretora do Parque Cientec. Segundo ela, essa estratégia tem sido bem sucedida, agradando visitantes de todas as idades. “Nesta exposição, chamamos a atenção para a rica diversidade de nossos Biomas e a importância de conservá-la”, destaca.  A diretora ainda lembra que a mostra acompanha uma atividade lúdica: “Bem divertida, onde cada visitante incorpora a identidade de uma planta típica e deve adivinhar qual seu bioma de origem”, diz, convidando todos a aproveitarem mais essa atração temporária do parque. 

Suzana Ursi, diretora do Parque Cientec - Foto: Reprodução X (Twitter)

Bioma Amazônia

Conhecido como o bioma de maior biodiversidade do mundo, a Amazônia possui vegetação extremamente densa, fauna e flora diversificadas e rios extensos. Corresponde à quase metade do território brasileiro, abrigando a maior floresta tropical e a maior bacia hidrográfica do mundo. Seu futuro está ameaçado por diversas atividades predatórias, como a extração de madeira, a mineração e a conversão da floresta em pastagens e áreas de agricultura. Apesar dos grandes esforços para sua conservação, a perda anual da cobertura florestal permanece em níveis alarmantes. Na obra, a artista escolheu a onça pintada, que, mesmo presente em quase todos os biomas brasileiros (com exceção do Pampa), tem sua população estimada em menos de 10 mil. Ameaçada de extinção, é o maior carnívoro da América do Sul, o terceiro maior felino do mundo e o único representante do gênero Panthera no continente americano.

Bioma Cerrado

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, ocupando cerca de 22% do território nacional. Nele estão as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul, o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. O Cerrado apresenta extrema abundância de espécies endêmicas e sofre uma excepcional perda de habitat. Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social já que muitas populações  sobrevivem de seus recursos naturais. Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção, como o tamanduá-bandeira e o lobo-guará, representados na obra. O primeiro pode atingir 2 metros de comprimento, pesando cerca de 40 kg, já esteve presente em todos os seis biomas brasileiros e vem sofrendo drásticas reduções no Cerrado, onde há maior concentração da espécie. Já o lobo-guará é um animal típico do Cerrado e o maior canídeo da América do Sul, podendo atingir até um metro de altura e pesar 30 quilos, mas que, com a fragmentação do seu habitat, precisa deixar o refúgio de matas para se alimentar e reproduzir, tornando-se vítima de automóveis e caçadores.

Bioma Caatinga

A caatinga ocupa uma área equivalente a 11% do território nacional, apresentando clima semiárido, vegetação com poucas folhas e adaptadas para os períodos de secas. Rica em biodiversidade, abriga diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos. Apesar da sua importância, o bioma tem sido desmatado de forma acelerada nos últimos anos, principalmente devido ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável para fins domésticos e de indústrias, e a conversão para pastagens e agricultura. O avançado desmatamento já atingiu 46% da área do bioma, e um dos animais ameaçados é o tatu-bola, que tem uma distribuição geográfica muito restrita, ocorrendo somente na Caatinga e no Cerrado. É a menor espécie de tatu do Brasil, com aproximadamente 50 cm e 1,2 kg, que corre alto risco de extinção em médio prazo. Suas populações foram extensamente dizimadas no passado, principalmente devido à caça humana de subsistência.

Bioma Pantanal

Considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, esse bioma continental é considerado o de menor extensão territorial no Brasil, entretanto este dado em nada desmerece a exuberante riqueza que o bioma abriga. Também chamado de “reino das águas”, esse imenso reservatório de água doce é muito importante para o suprimento de água, a estabilização do clima e a conservação do solo. O Pantanal vem sendo muito impactado especialmente nas áreas de planalto adjacentes e, principalmente nos últimos anos, tem sido palco de incêndios e queimadas causados pela ação humana com a finalidade de implantação de atividades econômicas ligadas à pecuária e à agricultura. Atualmente, a arara-azul é uma ave ameaçada de extinção. É impossível saber quantas araras havia originalmente, mas sabe-se que era uma espécie abundante, e infelizmente hoje devem existir mais araras-azuis em cativeiro que em vida livre, já que um dos principais fatores que levaram essas aves à ameaça de extinção foi a captura ilegal para o comércio nacional e internacional de aves de estimação, muito intensa até a década de 80.

Bioma Mata Atlântica

A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas e ecossistemas associados. Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km, estendendo-se por grande parte da costa do País. Porém, devido à ocupação e atividades humanas na região, hoje restam cerca de 29% de sua cobertura original. Suas florestas e ecossistemas são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e atenuação de desastres. Nesse bioma vive o  muriqui-do-norte, também conhecido como mono-carvoeiro, um primata endêmico da Mata Atlântica dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, podendo ocorrer no extremo norte do Rio de Janeiro, no Parque Nacional do Itatiaia. É o maior primata das Américas, podendo pesar até cerca de 15 kg. Atualmente, estão criticamente ameaçados de extinção. Este grau de ameaça está relacionado à sua distribuição geográfica restrita, com habitat muito fragmentado. As principais ameaças à espécie são a perda de vegetação nativa e fragmentação de habitats, além da caça para consumo humano, tráfico, comercialização e doenças.

Bioma Pampa

Restrito ao Estado do Rio Grande do Sul, as paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Há predominância dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigo, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a maior parte do aquífero Guarani. Uma espécie ameaçada de extinção é o veado-campeiro, que mede cerca de 1 metro de comprimento e pesa em média 35 quilos. Entre as muitas causas, estão a redução do habitat, a caça excessiva e ainda a ocorrência de doenças transmitidas pela proximidade com animais domésticos.

A exposição sobre biomas brasileiros fica em cartaz até agosto no prédio da Administração do Parque Cientec (av. Miguel Stéfano, 4.200, Água Funda, São Paulo; em frente ao Zoológico). O parque funciona de segunda a sábado, das 9h às 16h, com entrada gratuita. Mais informações sobre o projeto neste link

Para mais informações sobre o parque, acesse a página do Cientec e faça uma visita virtual neste link.  Acompanhe também as redes sociais Instagram e Facebook.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.