Professor da ECA oferece curso sobre Clube da Esquina no Sesc

Ivan Vilela abordará as inovações trazidas pelo movimento musical no curso “O Clube da Esquina: Nada Ficou Como Antes”

 15/03/2017 - Publicado há 8 anos
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O Clube da Esquina em 1971 - Foto: Juvenal Pereira/Divulgação
O Clube da Esquina em 1971: Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges e Milton Nascimento com o ex-presidente Juscelino Kubitschek (no centro) – Foto: Juvenal Pereira/Divulgação

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Entre os dias 15 de março e 5 abril, o professor Ivan Vilela, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ministrará o curso O Clube da Esquina: Nada Ficou Como Antes, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

Na primeira das quatro aulas, o professor, que também é compositor e instrumentista, pretende explorar o tratamento dado à música popular brasileira e as mudanças de seu arranjo ocorridas desde a gravação de Isto é Bom, de 1902, até a formação do Clube da Esquina. Ao longo do curso serão abordadas as inovações trazidas pelo movimento, que atuou entre as décadas de 1960 e 1970.

“O curso trabalha em cima de uma linha na qual o ouvir também é uma maneira de você construir conhecimento dentro da academia. Então, o foco do curso é o ouvido, porque muitas vezes as pessoas leem muito sobre música, mas não ouvem a música sobre a qual estão lendo”, explica Vilela. “Todo o trabalho do curso será feito em cima de audições comentadas”.

Professor Ivan Vilela - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Professor Ivan Vilela – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Para participar não é necessária formação em música, a pessoa interessada apenas deve ter mais de 16 anos. “Ao preparar um curso desse, a minha ideia é tentar chegar ao máximo de pessoas possível. Quem sabe se os jovens conhecessem música brasileira, eles sentiriam um pouco mais de orgulho de ser brasileiro. Essa nossa autoestima tem sido muito solapada nos últimos tempos”, reflete o professor. “O meu objetivo é muito mais chamar a atenção das pessoas para as riquezas que estão aos nossos olhos, e que a gente despreza, do que qualquer outra coisa”, afirma.

O Clube da Esquina

Ao contrário do que acontecia na Tropicália, cujas influências de outros ritmos e estilos musicais eram explícitas, no Clube da Esquina, essas influências se encontravam implícitas e fundidas, tornando o Clube um movimento de síntese da MPB. “Quando eu falo em síntese, eu penso em amálgama”, esclarece Vilela. “É uma mistura tão bem feita que você não consegue localizar exatamente o que é o que em cada lugar”.

Por representar um grande rompimento com os padrões musicais da época, o Clube foi incompreendido e ignorado pela crítica, que comparava a proposta do movimento com outros estilos já consolidados, apesar de ser uma proposição inédita. “Por ser um movimento de síntese e por não ter as linguagens e citações muito explícitas, a crítica não soube muito o que dizer, então pouco se escreveu e se falou sobre o Clube”, diz o professor, que publicou um artigo sobre a crítica da MPB na última edição da Revista USP.

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Em suas pesquisas sobre o movimento, Vilela identificou 13 características no Clube da Esquina que revolucionaram a música da época e são usadas até os dias atuais. “Do ponto de vista musical, o Clube da Esquina foi o movimento que mais acrescentou elementos à música e às gerações posteriores, de maneira que, hoje,  todo mundo utiliza esses procedimentos musicais, apesar de quase ninguém saber que eles foram resultado do trabalho do Clube da Esquina”, analisa.

A atuação de artistas como Milton Nascimento, Toninho Horta, Tavinho Moura, Nelson Angelo, Lô Borges, Wagner Tiso, Beto Guedes, dentre outros, foi precursor de conceitos como o world music. O músico inglês Peter Gabriel, da banda de rock progressivo Genesis, chegou até a afirmar que o grupo britânico só passou a existir depois que os integrantes ouviram Milton Nascimento.

Parte do sucesso de Milton vem da sua valorização de elementos étnicos, como a escolha pelo uso do falsete, o uso de diversos compassos em uma música e a inserção do congado na MPB. “Toda a imagética da música popular brasileira relacionada à cultura negra está muito ligada ao samba. É o Milton Nascimento que traz o congado, a música dos negros bantus mineiros, para a música popular brasileira”, explica o professor.

Além de inovar na técnica, “politicamente, eles foram muito bem alinhados com a resistência da música popular”, diz Vilela.

A música Ponta de Areia, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, por exemplo, denuncia e lamenta a desativação da ferrovia de Ponta de Areia, que interligava o sul da Bahia ao nordeste de Minas Gerais.

Outro exemplo da música de protesto feita pelo Clube foi o disco Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento, lançado em 1973, que foi quase totalmente censurado.

O conteúdo de protesto também estava presente em letras implícitas, algo que Vilela compara aos filmes de Godard, feitos de “sobreposições não propriamente explícitas”, mas que, no contexto do Clube, constituíam uma narrativa de revolta em relação ao governo militar.

Por questões mercadológicas, o movimento se dissolveu na década de 1980. Milton Nascimento começou a ser produzido por Marco Mazzola, o que aumentou a venda de seus discos, mas tornou os encontros com o Clube muito mais esporádicos. Da mesma maneira, outros artistas foram se afastando do movimento.

Curso O Clube da Esquina: Nada Ficou Como Antes

Centro de Pesquisa e Formação do Sesc – Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – 4º andar

De 15 de março a 5 de abril de 2017, às quartas-feiras, das 19h30 às 21h30

Recomendação etária: 16 anos

Vagas: 30

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