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Filmes inéditos de docentes da USP serão exibidos na 20ª Mostra Internacional de Cinema Negro, em São Paulo
Com direção de Celso Luiz Prudente e roteiro de Rogério de Almeida, professores da Faculdade de Educação da USP (FEUSP), os filmes Alma e Sangue no Atlântico Negro - o pensamento de Luiz Felipe de Alencastro, que tem produção do Canal Futura, e Negras Reitorias estão entre as principais exibições da Mostra
Texto: Antonio Carlos Quinto
Arte: Marcos Beccari/Extraída da capa do livro Cinema Negro: 20 anos de questionamentos e realizações - homenagem ao pensamento de Luiz Felipe de Alencastro
Entre os dias 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e 15 de dezembro, acontecerá, em São Paulo, a 20ª Mostra Internacional de Cinema Negro (Micine). Como parte do evento, dias antes haverá o lançamento de dois novos filmes produzidos e dirigidos pelos professores da Faculdade de Educação da USP (FEUSP), Celso Luiz Prudente e Rogério de Almeida. O documentário Negras Reitorias, com lançamento previsto para o dia 18, na Faculdade Sesi de Educação, em São Paulo, destaca professores e professoras que ocupam os cargos máximos em algumas universidades brasileiras, e que são referências negras na educação. A produção Alma e Sangue no Atlântico Negro – o pensamento de Luiz Felipe de Alencastro aborda o pensamento do historiador Luiz Felipe de Alencastro e tem seu lançamento marcado para o dia 19 de novembro, no cine REAG Belas Artes, em São Paulo.
O professor Celso Luiz Prudente, criador e curador da mostra, atua como professor da pós-graduação (PPGE) da FEUSP, e Rogério de Almeida é professor titular da FEUSP e coordenador do Laboratório Experimental de Arte-Educação Cultura (Lab_Arte), da mesma faculdade. Ambos já assinaram o filme que foi lançado na 19ª Mostra, no ano passado, Kabengele: o griô antirracista ⏤ produção do Canal Futura disponível na Globo Play ⏤, que traz a história do antropólogo Kabengele Munanga, Professor Emérito do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que tem mais de 150 publicações entre livros, capítulos de livros e artigos científicos. Na mostra deste ano, também serão lançados dois livros: Reescrevendo a História com Mãos Negras – homenagem à trajetória de Orlando da Mata, organizado por Celso Prudente, Rogério Almeida, Hugo Cesar Bueno Nunes e João Clemente de Souza Neto, e Cinema Negro: 20 anos de questionamentos e realizações – homenagem ao pensamento do historiador Luiz Alencastro.
Reitorias negras
Com o objetivo de criar uma imagem positiva do negro, o filme Negras Reitorias buscou fazer um levantamento de reitoras e reitores negros que atuam em universidades públicas do País para contar as suas trajetórias. A ideia da produção surge das observações de Prudente junto a um grupo de reitores negros afiliados à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que formaram o Coletivo Negras Reitorias, ligado à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). “Esses docentes, num grupo de 7 a 12 pessoas, realizavam alguns encontros na entidade para debater questões relativas ao racismo, entre outros temas”, lembra o professor.
No final do ano passado, Prudente reuniu os professores numa oficina realizada em Belém, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Lá, o cineasta foi convidado a ministrar um seminário sobre a dimensão pedagógica no cinema negro. “Convidei meu colega Rogério de Almeida e combinamos, inicialmente, realizar uma oficina de filmagens com os alunos sobre o tema”, conta Prudente. E foi a partir daí, como conta o professor, que as filmagens aconteceram ainda no primeiro semestre deste 2024, e que se deu todo o planejamento e início ao filme.
Celso Luiz Prudente - Foto: Arquivo pessoal
“Estamos vivendo a discussão e implantação do sistema de cotas raciais nas universidades brasileiras e penso que seja importante que se observe também as trajetórias de afrodescendentes e minorias que alcançaram o estágio da gestão universitária”, reforça Prudente.
Assim, Negras Reitorias traz um levantamento de reitoras e reitores negros e mostra suas trajetórias acadêmicas. De acordo com o professor e diretor do filme, essa realização irá contribuir para a construção dos esforços de inclusão, como as cotas. “Afinal, somos seres em construção e, com a humanidade de nossos acertos e erros, temos de contar nossa própria história”, enfatiza Prudente.
O professor Rogério de Almeida reforça que o filme busca tratar justamente da forma de atuação desse coletivo e traz os depoimentos desses reitores e reitoras que ocupam cargos importantes de gestão nas universidades brasileiras.
O projeto cinematográfico Negras Reitorias tem seu lançamento programado para o dia 18 de novembro, às 19 horas, na Faculdade Sesi de Educação, em São Paulo. O filme tem a participação da professora Ana Cláudia da Cruz Melo, da UFPA, no roteiro, juntamente com os docentes Rogério de Almeida e Celso Luiz Prudente. No mesmo dia, haverá o lançamento do livro Reescrevendo a História com Mãos Negras – homenagem à trajetória de Orlando da Mata.
Sangue no Atlântico
Um dia depois, no dia 19, no REAG Belas Artes, em São Paulo, acontece a estreia da produção do Canal Futura Alma e Sangue no Atlântico Negro – o pensamento de Luiz Felipe de Alencastro. O filme tem direção de Celso Luiz Prudente e roteiro assinado pela dupla de docentes da FEUSP, que vem atuando desde 2020. “Minha parceria com Celso Prudente se inicia em 2020, mas conheço o trabalho dele desde 2019”, lembra o professor Almeida. As contribuições entre ambos começaram no ano seguinte (2020), com Almeida atuando junto ao Lab-Arte, da FEUSP. “É quando começamos a trabalhar junto com o Lab-Arte, que é o laboratório experimental de arte, cultura e educação. Também começamos a publicar livros das edições das mostras do cinema negro, idealizadas desde a primeira edição por Celso Prudente”, conta.
“O primeiro livro que nós fizemos juntos foi em 2021, quando lançamos Cinema Negro: educação arte antropologia”, destaca Almeida. Já em 2022, uma nova publicação dos dois docentes: Cinema Negro: uma revisão crítica das linguagens. E no ano passado foi lançado Cinema Negro: D’África à diáspora – o pensamento antirracista de Kabengele Munanga, durante a 19ª Mostra Internacional de Cinema Negro, que aconteceu em São Paulo.
Rogério de Almeida - Foto: Lilian Curiel Passeri/FEUSP
Almeida destaca que o filme Alma e Sangue no Atlântico Negro – o pensamento de Luiz Felipe de Alencastro será o tema central da 20ª Mostra Internacional de Cinema Negro (Micine). E também será o título do livro a ser lançado, que tem a organização de ambos. Este filme, de 37 minutos, tem a produção do Canal Futura, da Fundação Roberto Marinho, e está disponível no streaming da Globo Play. “Para compor o filme, estudamos a obra do Luiz Felipe de Alencastro, que é muito importante”, descreve Almeida. Luiz Felipe de Alencastro é autor de O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, em que o historiador narra como se deu e como se estabeleceu o comércio de escravos entre o Brasil e a África. “Importante lembrar, por exemplo, que o historiador cita que o Brasil colônia não teve vários ciclos econômicos, como o ciclo da cana-de-açúcar, como o ciclo do café, do minério, mas que foram ‘subciclos’ de um ciclo maior que foi a escravidão”, lembra o professor.
Mostra completa 20 anos
O Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, será a sede da 20ª Mostra Internacional de Cinema Negro (Micine). No dia 22, acontecerá a cerimônia solene de premiações e honrarias. Entre elas, títulos de Doutor Honoris Causa outorgados pela Faculdade Sesi de Educação para os docentes Luiz Felipe de Alencastro, professor titular emérito da Universidade de Sorbonne, França, e titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo; e Orlando da Mata, ex-reitor da Universidade Agostinho Neto, de Angola, onde é professor catedrático. Celso Luiz Prudente também será laureado pelas duas décadas como idealizador e criador da Micine. Ele é professor associado da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e professor na área de Cultura do PPGE da FEUSP.
A Micine acontece em diversos lugares. “Mas podemos considerar como um espaço nuclear o Sesi, em São Paulo”, cita Almeida. A cerimônia principal da mostra, como informa o docente, acontece no Teatro do Sesi, no Centro Cultural Fiesp. Mas haverá exibições também na Faculdade Sesi de Educação, no REAG Belas Artes e no Museu da Imagem do Som (MIS) do Estado de São Paulo.
A mostra visa promover a inclusão da cultura negra e valorizar a representatividade afrodescendente no cinema. “São 20 anos de questionamentos e realizações, nos quais publicamos livros, lançamos músicas, realizamos e exibimos filmes, viabilizamos apresentações artísticas de jovens negros e democratizamos o acesso e a atuação artística e acadêmica da população”, enfatiza o professor Celso Prudente. A Micine terá em suas programações mesas-redondas, apresentações musicais e exibição de filmes.
A parceria entre os dois docentes também se deu na composição de três músicas-tema da Micine, com apoio do MIS. Veja abaixo, pelo Youtube, os clipes das composições:
Amor de Cinema
Composição de Rogério de Almeida e Celso Prudente
Intérprete: Cida Moreira
Direção Artística: Celso Prudente e Rogério de Almeida
Produtora: Maristela Filmes
Dialética do Coração
Composição de Lula Barbosa, Rogério Almeida e Celso Prudente
Intérpretes: Lívia Nestrovski e Grupo Metallumfonia, do maestro trompetista Paulo Ronqui (Unicamp)
Direção Artística: Celso Prudente
Produtora: Maristela Filmes
Arranjo: Jefferson Anastácio
Meu Quilombo
Composição de Alexandre Vargas e Celso Luiz Prudente
Intérprete: Bukassa Kabengele
Direção Artística: Celso Luiz Prudente
Produtora: Maristela Filmes
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