Simpósio internacional na USP em Bauru vai discutir políticas públicas para malformações craniofaciais

Realizado em parceria com o Boston Children’s Hospital e a Harvard Medical School, o encontro acontecerá nos dias 14 e 15 de março na USP em Bauru e reunirá os principais especialistas e lideranças mundiais, além de autoridades do Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar

 20/02/2024 - Publicado há 2 meses
Evento acontece no teatro da FOB, na USP em Bauru – Foto: Denise Guimarães/FOB

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A USP Bauru sediará, nos dias
14 e 15 de março, o primeiro simpósio internacional sobre craniossinostose, malformação que pode atingir 1 em cada 2.500 nascidos, que se caracteriza pelo fechamento precoce de suturas cranianas durante a gestação e que, em sua forma sindrômica, pode trazer diferentes comprometimentos no desenvolvimento da criança, como alterações no formato do crânio, nos olhos e visão, hipertensão intracraniana, além de prejuízo na capacidade de aprendizado. 

Realizado pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP – centro de liderança e referência mundial na pesquisa e tratamento das malformações do crânio e da face, síndromes associadas e deficiência auditiva – em parceria com o Boston Children’s Hospital – afiliado à Harvard Medical School –, o Craniosynostosis Symposium – Comprehensive Care, Policy and Advocacy reunirá os principais especialistas e lideranças do Brasil e do exterior em craniossinostose sindrômica, além de autoridades do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A ministra da Saúde, Nísia Trindade, está confirmada para a abertura do evento.

Além de discutir as diferentes abordagens clínicas e promover um intercâmbio entre centros de excelência, a proposta deste encontro é colocar as malformações craniofaciais e síndromes associadas na pauta da saúde pública brasileira, com o intuito de melhorar e ampliar o acesso à informação, ao diagnóstico precoce e ao tratamento, inclusive com a formalização de protocolo clínico para a craniossinostose junto ao Ministério da Saúde.

O evento contará com sessões dedicadas a diferentes especialidades e aspectos relacionados ao atendimento dos pacientes com síndromes e malformações craniofaciais complexas, além de discussões sobre direitos, gestão de atendimento, financiamento, política pública e governança.

As inscrições estão abertas para os diversos públicos – profissionais da saúde e áreas afins, estudantes de graduação e pós-graduação e demais interessados – e podem ser feitas com descontos até o dia 22 de fevereiro pelo site.

Programação

O encontro abordará de forma ampla e detalhada os distúrbios craniofaciais, com conteúdo distribuído em dois dias. Entre os destaques da programação estão: os desafios para o tratamento da craniossinostose sindrômica nas diferentes regiões do Brasil, a importância do cuidado multidisciplinar, a experiência de pais e a jornada dos pacientes, e o papel do Estado e das instituições para aprimorar o atendimento no país.

No período da manhã, haverá reuniões com foco clínico, concentradas em craniossinostose sindrômica. As sessões no período da manhã de ambos os dias discutirão as diferentes abordagens no Brasil, bem como no Hospital Infantil de Boston (EUA) e no Hospital Infantil Necker (em Paris, na França), como forma de comparar e contrastar os protocolos, além das perspectivas e particularidades das diversas especialidades envolvidas no atendimento a esses pacientes. Os objetivos incluem o compartilhamento de experiências e práticas clínicas e, principalmente, o estabelecimento de uma estrutura para a futura colaboração clínica e de investigação científica.

À tarde, em ambos os dias, a ênfase será dada para a política pública e a defesa de direitos. Os debates permearam tópicos como a situação atual da assistência aos pacientes com malformações craniofaciais no Brasil, incluindo a craniossinostose; como superar as barreiras ao cuidado dessas condições; as questões e desafios de força de trabalho, infraestrutura, financiamento, política pública e governança; as lacunas existentes nas gestões pública e privada para esta população de pacientes e soluções.

Para as sessões da tarde, também estão incluídas organizações de apoio aos pacientes e familiares e ONGs que prestam cuidados a esse público. Além de documentar o panorama atual do cuidado aos pacientes com síndromes e malformações craniofaciais complexas, as sessões buscam, a partir da reflexão e da interação entre os diferentes agentes, definir estratégias e propor mudanças políticas, legais e de governança no Brasil para fornecer acesso simples, seguro e de qualidade aos cuidados para todos os pacientes com distúrbios craniofaciais e suas famílias.

Experiência pessoal

Natalia Jereissati, mãe de criança com síndrome de Apert e idealizadora do simpósio – Foto: Arquivo pessoal

Idealizadores do simpósio, o casal Natalia Jereissati e Igor Cunha vivenciou na prática a dificuldade de um direcionamento para o tratamento adequado. Seu terceiro filho, João, hoje com 6 anos, é paciente com síndrome de Apert, uma condição genética rara na qual os ossos do crânio, das mãos e dos pés se fundem durante o desenvolvimento fetal, causando alterações nessas partes do corpo. Após o nascimento, foram necessários alguns dias para que os médicos chegassem ao diagnóstico e recomendassem uma cirurgia para aliviar a pressão no cérebro.

Sem encontrar informações precisas, Natalia e Igor lançaram-se, junto à família e amigos, em uma busca por orientações e opções de tratamento. “Quando João nasceu, tínhamos informações desencontradas e precisávamos agir rápido, numa verdadeira corrida contra o tempo para termos os melhores resultados. Conhecemos o trabalho do doutor Mark Proctor em Boston e ficamos encantados com a possibilidade de melhorar significativamente a vida do nosso filho. Queremos mostrar a outras famílias que é possível proporcionar qualidade de vida a pacientes com outras síndromes similares”, conta Natalia.

A experiência do casal os incentivou a promover o encontro como forma de intercâmbio entre as técnicas usadas no Boston Children’s Hospital – um dos principais centros médicos pediátricos norte-americanos – e os médicos brasileiros que tratam este tipo de síndrome, tendo em vista que quanto mais cedo é feito o diagnóstico e a cirurgia, maiores são as chances de sucesso, e também como forma de chamar a atenção da classe médica e de autoridades públicas para a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) estar preparado para conduzir os casos na rede pública.

Parte da equipe multidisciplinar de Cirurgia Craniofacial do HRAC-USP. A partir da esquerda: Melissa Zattoni Antoneli, fonoaudióloga; Cristiano Tonello, cirurgião craniofacial; Mariani da Costa Ribas, psicóloga; Adriano Porto Peixoto, ortodontista; Nancy Mizue Kokitsu Nakata, bióloga; Erica Aparecida Brandão Dolo Fabiano, assistente social; e Michele Madeira Brandão, neurocirurgiã – Foto: André Boro/HRAC

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Aprimorar a saúde pública

Para o professor Nivaldo Alonso, chefe técnico de Cirurgia Craniofacial do HRAC-USP em Bauru e docente da disciplina de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na capital, esta é uma oportunidade para destacar o trabalho realizado por centros brasileiros e ampliar o conhecimento de profissionais em diferentes especialidades sobre as síndromes associadas às craniossinostoses.

“Temos grandes desafios no tratamento de craniossinostose sindrômica no Brasil, e uma delas é a integração de especialidades médicas. Obstetras e pediatras, por exemplo, precisam saber melhor sobre as síndromes, para que o diagnóstico aconteça cada vez mais cedo. A proposta do simpósio é incluir diferentes abordagens e experiências, enriquecendo o conhecimento sobre as síndromes e trazendo o assunto para a pauta de saúde pública”, destaca Alonso, presidente do simpósio.

De acordo com o professor John Meara, chefe do Departamento de Cirurgia Plástica e Oral do Boston Children’s Hospital e docente da Harvard Medical School, o encontro será oportuno para integrar técnicas aplicadas no exterior e que podem fazer a diferença aos pacientes brasileiros.

“Conhecemos a Natalia e o Igor em 2017 e, desde então, presenciamos a evolução do tratamento do João. Acompanhamos também o trabalho de excelência do doutor Nivaldo e sua equipe no HRAC-USP e acredito que a iniciativa do simpósio vem mostrar a importância da abordagem assertiva de diferentes especialidades com um só objetivo: restabelecer as condições para que crianças com síndromes tenham melhores oportunidades”, ressalta Meara, que também preside o encontro. 

Integram o comitê científico do simpósio: o professor Cristiano Tonello, cirurgião craniofacial do HRAC-USP e vice-coordenador do curso de Medicina da USP Bauru; Melissa Zattoni Antoneli, chefe técnica de Fonoaudiologia do HRAC-USP; Michele Madeira Brandão, neurocirurgiã do HRAC-USP; o casal Natalia Jereissati e Igor Cunha; e o professor Mark Proctor, neurocirurgião-chefe do Boston Children’s Hospital e docente da Harvard Medical School.

O evento conta com apoio da InciSioN, Organização Não Governamental de defesa a cirurgias acessíveis a todos, presente em mais de 80 países e estabelecida no Brasil; do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), formado por representantes da cadeia produtiva do setor de saúde; da Sociedade Brasileira de Auditoria Médica (SBAM) e da Associação Brasileira dos Enfermeiros Auditores (ABEA).


Craniosynostosis Symposium – Comprehensive Care, Policy and Advocacy (Simpósio Internacional sobre Craniossinostoses Sindrômicas – Cuidado Integral, Política e Direitos)
Quando: 14 e 15 de março de 2024
Onde: Teatro Universitário da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), al. Dr. Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75, Vila Universitária, Bauru, SP
Público-alvo: Profissionais e estudantes da saúde e áreas afins e demais interessados
Inscrições com desconto até 22 de fevereiro de 2024
Mais informações e programação completa no site do evento, na página do HRAC ou no Instagram

Saiba mais sobre a craniossinostose neste link

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 *Texto do Serviço de Comunicação do HRAC-USP, com informações da agência Mass Media


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