Para o aluno que estuda economia monetária, é fundamental entender o funcionamento do mercado competitivo e perceber de que maneira a oferta e a procura orientam a definição de preços. A teoria sobre o assunto é farta, mas a compreensão desses conceitos pode não ser tão simples.
Buscando envolver a sala de aula no tema, uma professora da USP em Ribeirão Preto passou a empregar uma espécie de jogo em que os alunos são divididos em vendedores e compradores.
O primeiro grupo recebe baralhos com os valores de custo de produção, e o segundo grupo, com o valor máximo que estariam dispostos a pagar pelo produto. O experimento gera várias rodadas de negociação e debates que esclarecem a teoria econômica envolvida mesmo antes de ela ser apresentada.
Esse e outros métodos didáticos vêm sendo colocados em prática pela professora Roseli da Silva com várias de suas turmas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp) da USP. Ela relata as motivações e resultados dessas experiências em um artigo publicado na primeira edição da Revista de Graduação USP, uma iniciativa da Pró-Reitoria de Graduação, lançada em julho deste ano.
“Tem muita gente fazendo coisas interessantes na USP e em outras instituições, mas isoladamente. É importante ter este canal de comunicação. Se não sabemos nem mesmo o que o colega do lado faz, imagina fora dos departamentos”, avalia a professora.
Segundo o editor-adjunto da publicação, Thiago Mio Salla, um dos critérios levados em conta na seleção dos trabalhos é a possibilidade de replicar as propostas em outros contextos e áreas. É o caso de um trabalho desenvolvido no curso de Sistemas de Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, em que os pesquisadores utilizaram a mineração de dados para identificar e acompanhar alunos com potencial de desistência do curso. O índice de acerto superou os 90%. A iniciativa joga luz sobre o problema da evasão no ensino superior e as medidas possíveis para controlar o fenômeno, algo que interessa aos responsáveis de qualquer curso.
Metodologias ativas
O primeiro número da Revista de Graduação USP, também chamada de Grad+, traz sete artigos e oito relatos – formato que estimula professores a compartilhar experiências inovadoras, mas que não representam, propriamente, uma pesquisa ou metodologia estabelecida, explica Thiago Salla.
O editor identifica um ponto em comum em todos estes trabalhos: o esforço de professores das mais diferentes áreas em colocar em prática metodologias ativas de ensino. “Essa renovação no modo de ensinar é recorrente. O modelo em que o aluno fica sentado na sala de aula, passivo, como um depósito de conhecimento, é substituído por um em que ele é uma figura ativa no processo de aprendizagem”, observa Salla, que divide a edição da revista com o professor Eder Cassola Molina.
Um exemplo de metodologia ativa é o peer-instruction, que permite aos professores verificar, em tempo real, a compreensão dos alunos sobre um determinado tópico de uma aula. Na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, as aulas de física foram enriquecidas com o uso de WhatsApp, Facebook e do Google Forms. O relato desta experiência foi um dos escolhidos para compor a primeira edição da revista.
Foram cerca de 150 trabalhos recebidos. Para Salla, um número que reflete a demanda represada por uma publicação com foco na graduação e o interesse em compartilhar experiências com outros professores. “É importante a instituição demonstrar que isso é relevante. Quando buscamos inovar nossas práticas didáticas estamos usando nosso tempo de trabalho e isso deve ser valorizado”, afirma a professora Roseli da Silva.
Revista Grad+
A Grad+ é uma publicação mantida pela Pró-Reitoria de Graduação da USP, com foco em professores do ensino superior, além de pós-graduandos e profissionais envolvidos na área. A ideia de lançar a revista surgiu a partir do Congresso de Graduação, realizado pela primeira vez no ano passado, para discutir o ensino de graduação tanto na Universidade como em outras instituições.
“A qualidade dos trabalhos apresentados no congresso motivou a criação da revista. Ela traz a possibilidade de socializar a experiência de ensino que está sendo praticada de diferentes modos no ensino superior, principalmente na USP. Hoje, temos uma mudança de paradigma, o ensino é focado no aluno e não apenas nos professores. Para isso, empregam-se metodologias ativas que utilizam ferramentas digitais e permitem o desenvolvimento do estudante”, afirma o pró-reitor de Graduação da USP, Antonio Carlos Hernandes.
A próxima edição da Grad+ deve ser lançada em outubro a partir dos trabalhos já recebidos. A primeira edição está disponível gratuitamente no site da revista e no Portal de Revistas USP.
Mais informações: site http://gradmais.usp.br/, email gradmais@usp.br