Plataforma Memorial da Pandemia pretende ser fonte de pesquisa sobre as periferias

Iniciativa disponível na internet nasceu da parceria entre o Núcleo de Relações Internacionais e Fundação Perseu Abramo e busca retratar as dificuldades e a luta diária e resiliente de pessoas da periferia depois de março de 2020

 24/08/2022 - Publicado há 2 anos
Favela do Metrô-Mangueira, na zona norte da cidade do Rio – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

.
Nesta sexta, dia 26 de agosto, será lançada a plataforma Periferias na Pandemia. A iniciativa, liderada pelo Centro de Estudos em Conflito e Paz (CCP), ligado ao Núcleo de Relações Internacionais (Nupri) da USP e pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, tem como objetivo a criação de um memorial que retrate as dificuldades e a luta diária e resiliente de pessoas da periferia depois de março de 2020. A construção da plataforma contou com o apoio financeiro do Center for Human Rights and Humanitarian Studies (CHRHS), do Watson Institute, Brown University.

A plataforma digital pode ser acessada neste link e a ideia é que se torne um espaço a ser alimentado com testemunhos que podem ser registrados em formato de texto, áudio, vídeo e foto. Há um termo de consentimento que deve ser aprovado antes de submeter um testemunho, mas existe a possibilidade de submissão de depoimentos anônimos. A etapa seguinte compreende uma revisão qualificada do conteúdo quanto às questões éticas para disponibilização de material ao público. Após sua análise, o testemunho, integral e sem edições, passa a  fazer parte de um grande repositório de dados qualitativos que pode ser acessado por qualquer pessoa interessada, com possibilidade de filtragem de informações por Estado.

A intenção do projeto é que os usuários contem suas histórias de maneira livre e sem cortes e produzam um memorial sobre a pandemia na vida das periferias brasileiras. O conteúdo servirá como fonte de informação a pesquisadores, jornalistas, estudantes, gestores ou pessoas leigas que simplesmente queiram se informar sobre as diferentes maneiras como as periferias enfrentaram e ainda enfrentam a pandemia. “O projeto compreende o termo periferia de forma ampla, abrangendo não apenas locais, mas também grupos sociais economicamente vulneráveis e que estão distantes ou excluídos dos centros decisórios e de poder. Ou seja, estamos falando de moradores de periferias urbanas e também de comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, rurais, organizações de trabalhadores informais, coletivos de mulheres negras, artistas de rua, etc.”, destacam os organizadores da plataforma.

Tela da plataforma Periferias na Pandemia – Foto: Reprodução

.
O projeto partiu da iniciativa de quatro pesquisadoras do Nupri – Ana Maura Tomesani, Camila Braga, Joana Ricarte e Roberta Holanda Maschietto – que buscavam voluntariamente levantar as demandas periféricas durante o período e entender de que forma as comunidades se organizaram para o enfrentamento da pandemia. A parceria com a Fundação Perseu Abramo possibilitou às pesquisadoras o acesso à base de mais de 800 organizações e movimentos mapeados pelo projeto Reconexão Periferias e que estão em diálogo com a fundação em todo o País.

As pesquisadoras acreditam que a plataforma digital Periferias na Pandemia poderá constituir uma enorme contribuição não apenas para a ciência e para o desenvolvimento de políticas públicas, mas também para a não-invisibilização do sofrimento de populações já castigadas pela ausência crônica de serviços públicos básicos em seus territórios e comunidades. “O memorial é uma forma de evitar traumas. Todo sofrimento calado, abafado, sobre o qual não se fala, ou quando se fala, não se escuta, vira um trauma. Um trauma social. É preciso que se fale sobre este período. É preciso que as periferias falem e sejam ouvidas não apenas sobre o sofrimento vivido, mas também sobre as formas como se recompuseram e enfrentaram este cenário dramático”, destaca Paulo Ramos, coordenador do Reconexão Periferias.

O projeto prevê ainda a organização de um evento nacional sobre covid-19 e periferias para o início de 2023, e outro evento internacional sobre a pandemia de covid-19 nas periferias globais para o final de 2023, que deve ocorrer em Coimbra, Portugal, além da organização de um livro com a seleção de testemunhos do projeto.

Para conhecer a plataforma acesse http://periferiasnapandemia.fpabramo.org.br.

 

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.