De “O Senhor dos Anéis” a sagas nórdicas, obras mitopoéticas são tema de pesquisa na Universidade

Grupo de Estudos Mitopoéticos da USP iniciou fase de estudos comparados com o objetivo de analisar as obras O Hobbit e O Senhor dos Anéis, e suas adaptações cinematográficas

 29/08/2023 - Publicado há 9 meses     Atualizado: 30/08/2023 as 19:51
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Encontros buscam analisar as adaptações que transformaram os livros de Tolkien em trilogias cinematográficas – Arte sobre foto: WingNut Films e Martins Fontes

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Se você ainda não leu ou assistiu aos filmes, provavelmente já ouviu falar sobre as obras de John Ronald Reuel Tolkien, criador de
O Hobbit e O Senhor dos Anéis, que encantam milhares de fãs em todo o mundo. Para entender esse universo literário, o Grupo de Estudos Mitopoéticos (GEM) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) organiza encontros para analisar as adaptações que transformaram os livros de Tolkien em trilogias cinematográficas. É a terceira fase de trabalho de pesquisadores que fazem parte do Grupo de Pesquisa em Produções Literárias e Culturais para Crianças e Jovens da FFLCH.

O primeiro encontro do GEM aconteceu on-line no dia 2 de agosto via Google Meet e os próximos deverão ocorrer às primeiras quartas-feiras de cada mês, às 20h (sujeito a alterações), até o dia 6 de dezembro. Essa fase será mediada pela professora Verônica Valadares, mestre em adaptação literária pela Universidade de Brasília (UnB), e estudará conceitos teóricos nas primeiras reuniões. A partir do quarto encontro, passará a analisar cenas e capítulos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. “Achamos importante estudar os conceitos da Teoria da Adaptação, para ter mais propriedade no momento das análises, trazendo autores como Umberto Eco, Robert Stam e Linda Hutcheon. Nesse primeiro encontro, nós focamos no conceito de adaptação como uma forma de tradução intersemiótica e na importância de analisar as adaptações dentro de seu contrapor histórico-cultural de produção”, explica a professora. 

Por meio da análise de obras mitopoéticas, isto é, trabalhos que têm como base o mito e seus derivados, o GEM tem como objetivo refletir sobre questões inseridas no âmbito da literatura e de outras áreas do saber a partir dos estudos comparados. De acordo com Cristina Casagrande, doutoranda em Estudos Comparados em Literatura pela USP, idealizadora e coordenadora do GEM, a terceira fase do projeto chamou a atenção de diversos novos integrantes, como pesquisadores em cinema, pedagogia e filosofia. Além deles, o grupo já conta com pesquisadores na área de tradução, letras, história, entre outras áreas. 

Autores como Umberto Eco, Robert Stam e Linda Hutcheon são referência em Teoria da Adaptação – Fotos: Wikipedia, University of California e University of Toronto

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O planejamento de estudos do grupo inclui textos como o poema épico
Beowulf, analisado durante a primeira fase do projeto, em diálogo com outras obras de fantasia, contos de fada ou de cunho mitológico em geral, e as Eddas irlandesas Edda em prosa e Edda em verso, que foram estudadas durante a segunda fase, permeando a discussão sobre sagas nórdicas. A epopeia finlandesa Kalevala e obras de autores fundamentais da literatura mitopoética, como J.R.R. Tolkien — analisado nesta terceira fase —, C.S. Lewis, J.K. Rowling, L. Frank Baum, Ursula K. Le Guin  e George R.R. Martin também fazem parte da coletânea. 

Programação completa

O primeiro encontro do GEM no dia 2 de agosto, com o título Adaptação literária: um monstro com muitos críticos?, utilizou como bibliografia básica os textos Quase a mesma coisa – experiências de tradução, de Umberto Eco, e o vídeo Comparing Every Version of Little Women, do canal Be Kind Rewind no YouTube, para abrir as discussões sobre o conceito de adaptação como uma forma de tradução intersemiótica e a análise de adaptações dentro de seu contexto histórico-cultural de produção. 

Confira os próximos encontros:

6 de setembro – Teoria da Adaptação – Porque nem tudo é farra: como bibliografia básica, o grupo analisará os textos Palimpsestos: A literatura de segunda mão, de Gérard Genette, e Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade, de Robert Stam, para avançar o debate teórico sobre as adaptações. 

4 de outubro – Blockbusters: quando a arte encontra o mercado: neste encontro, o GEM contará com a participação do palestrante convidado Bruno Tavares, especialista na área de cinema, e discutirá os blockbusters, ou seja, livros, filmes e outras expressões artísticas que atingem grande popularidade ou sucesso.

30 de outubro – Tolkien vai ao cinema: o quarto encontro acontecerá excepcionalmente em uma segunda-feira e iniciará a análise de cenas e capítulos de O Senhor dos Anéis. Entre as cenas das adaptações escolhidas para os estudos comparados estão Concerning Hobbits, de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Pântanos Mortos, de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, e Montanha da Perdição, de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. No caso dos livros, os capítulos escolhidos são “Prólogo”, “A Travessia dos Pântanos” e “O Monte da Perdição”. 

6 de dezembro – Tolkien vai ao cinema: o último encontro, que fechará a terceira fase do projeto, se dedicará ao estudo de cenas e capítulos de O Hobbit. Entre as cenas das adaptações escolhidas estão Chegada dos anões à casa de Bilbo e Adivinhas no escuro, de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, e A Batalha dos Cinco Exércitos, de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos. Os capítulos do livro escolhidos para análise são “Uma Festa Inesperada”, “Adivinhas no Escuro” e “As Nuvens Desabam”.
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Sobre o Grupo de Estudos Mitopoéticos

Em 2020, O Grupo de Estudos Mitopoéticos nasceu como uma subdivisão do Grupo de Pesquisa em Produções Literárias e Culturais para Crianças e Jovens da USP, homologado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os dois são liderados por Maria Zilda da Cunha, professora da FFLCH. 

Encontro presencial entre os membros do Grupo de Estudos Mitopoéticos, em 2022 – Foto: Cristina Casagrande/Arquivo Pessoal

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O grupo nasceu devido a uma linha de interesse específica em estudos mitopoéticos e visa lançar um olhar múltiplo e interdisciplinar sobre a literatura mitopoética, isto é, a literatura que tem por objetivo criar uma mitologia. O propósito do GEM é estudar e estabelecer paralelos entre as mitologias construídas por indivíduos e aquelas desenvolvidas naturalmente por um povo ao longo de muitos séculos.

Segundo Cristina, as atividades do grupo estavam planejadas para serem presenciais, mas por conta da pandemia da covid-19, os encontros ficaram estabelecidos por meio do formato on-line. “Agora mantemos esse formato pois angaria muitas pessoas de todo o Brasil. Mas em julho do ano passado fizemos um encontro presencial, o que foi muito prazeroso”, finaliza.

O Grupo de Estudos Mitopoéticos está aberto à comunidade acadêmica em geral e os interessados em participar do projeto devem mandar um e-mail para estudosmitopoeticos@gmail.com, explicando as razões pelas quais gostariam de fazer parte do grupo.

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*Estagiária sob supervisão de Thais Helena dos Santos


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