Com reserva de vagas pela 1ª vez, pós-graduação em Ecologia da USP quer inspirar outros cursos

Universidade, que já possui ações afirmativas nos cursos de graduação, dá autonomia para programas de pós decidirem sobre reserva; inscrições para mestrado e doutorado em Ecologia podem ser feitas até 8 de outubro

 22/09/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 24/09/2021 as 10:32
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Público de ações afirmativas pode se inscrever no mestrado e no doutorado – Foto: Freepik

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O Programa de Pós-Graduação em Ecologia, do Instituto de Biociências (IB) da USP, em São Paulo, abriu
edital para inscrições de oito vagas de mestrado e oito vagas de doutorado. A grande novidade deste ano é que, pela primeira vez, haverá reserva de vagas para pessoas autodeclaradas pretas, pardas ou indígenas (PPI). Serão abertas ainda vagas adicionais (supranumerárias) para pessoas com deficiência, de comunidades tradicionais e trans, caso elas estejam entre os aprovados. 

Se alguém se encaixar em mais de um dos grupos, poderá declarar-se optante pelas respectivas vagas. As inscrições devem ser feitas até dia 8 de outubro através do preenchimento de formulários disponíveis neste link

Serão reservadas 50% das vagas oferecidas no curso de mestrado a quem se declare PPI e 50% das vagas para o doutorado. A adoção da política afirmativa foi resultado de um “processo transparente, participativo e democrático”, nas palavras do professor Paulo Inácio de Knegt López de Prado, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia. 

Paulo Inácio Prado, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia do IB-USP – Foto: Divulgação/IB

“Recebemos a demanda do coletivo Bitita, conversamos com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e com outros programas da USP para entender como poderíamos incluir a reserva de vagas”, explica o professor.

A ideia e a iniciativa da adoção de uma política afirmativa na pós-graduação em Ecologia partiu do coletivo negro do IB, que recebeu o nome em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus, apelidade de “Bitita”. Em julho do ano passado, eles começaram a estudar editais de programas de pós-graduação da USP e de outras universidades que haviam adotado a reserva de vagas para entender como funcionava o processo.

“No regimento da pós-graduação em Ecologia, não havia nada que negasse a reserva de vagas, o programa tinha autonomia para decidir”, conta Natalia dos Santos Vieira, estudante de Biologia do IB e integrante do coletivo Bitita.

Depois da leitura de 33 editais e do apoio da professora Jacqueline Teixeira, da Faculdade de Educação (FE) da USP, e da pesquisadora Teresa Teles e da professora Silvana Nascimento, do programa de pós-graduação Diversitas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que também reserva suas vagas a estudantes PPI, o coletivo redigiu uma proposta e apresentou à Comissão Coordenadora da Pós-Graduação em Ecologia.

A Comissão Coordenadora do Programa criou então um grupo de trabalho com a participação de representantes do Coletivo Bitita, professores, funcionários e estudantes do IB para escrever a minuta do edital com a reserva de vagas. O coletivo organizou simpósios, debates, espaço de tira-dúvidas sobre o que é política afirmativa e a importância da reserva de vagas para diminuir as desigualdades sociais. O grupo de trabalho também criou espaços de discussão e, junto com o coletivo, produziu material de divulgação.

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Confira abaixo os vídeos dos eventos sobre o processo de adoção das ações afirmativas no Programa de Pós-Graduação em Ecologia do IB


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“A proposta foi apresentada com antecipação, ficou aberta para modificações, mas foi aprovada na integralidade. Sem um processo participativo como esse nenhuma decisão importante no programa permaneceria”, afirma o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia. 

Natalia destaca ainda a importância da implantação de políticas afirmativas em um programa de pós-graduação com nota máxima, 7, na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do governo federal do Brasil, ligado ao Ministério da Educação, responsável por acompanhar a qualidade dos cursos de pós no País. “É uma esperança para que outros programas dentro da USP também possam adotar a reserva de vagas, hoje, elas estão concentradas em programas na área de humanidades.”

Desde 2017, a Universidade possui reserva de vagas nos cursos de graduação para alunos de escolas públicas e alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que sejam do sistema público de ensino. Na pós-graduação, a decisão cabe a cada programa.
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Integrantes do Coletivo Bitita, do Instituto de Biociências da USP. Da esquerda para a direita: Mariana Inglez, Lucas Nascimento, Matheus Rosa, Rafael Menezes e Natalia Vieira – Foto: Arquivo pessoal

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Futuro na pós-graduação em Ecologia

Tanto a estudante Natalia quanto o professor Paulo acreditam que a reserva de vagas é só um primeiro passo da ação afirmativa na pós em Ecologia. “Depois da distribuição de vagas, também precisamos discutir sobre a distribuição de bolsas, permanência e acompanhamento”, destaca Natalia.

Segundo o coordenador do programa de pós-graduação, foi criada uma Comissão Permanente de Ações Afirmativas para acompanhar novas propostas e atender a outras ações necessárias. “Precisamos abrir espaços na pós-graduação para que ela seja mais plural e a política afirmativa é mais fácil de adotar do que se imagina. Temos muita experiência acumulada com coletivos, são estudantes e professores engajados para criar as condições nas instituições”.

Mais informações: https://posecologia.ib.usp.br/ingresso/proximo-exame.html

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