Retomada econômica esbarra no déficit público e na taxa de desemprego

Para Luciano Nakabashi, a tese da recuperação econômica em forma de V acontece quando uma recessão muito forte do PIB vem seguida de uma retomada também forte

 30/09/2020 - Publicado há 4 anos

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Na coluna Reflexão Econômica desta semana, o professor Luciano Nakabashi fala do entusiasmo do mercado com a retomada da economia brasileira em V, que acontece quando uma recessão muito forte do PIB, como a do segundo trimestre deste 2020 no Brasil, vem seguida de uma retomada também forte, devolvendo parte da perda da retração, e logo após acontece a manutenção do crescimento como se nada tivesse acontecido. É um choque que afeta um período específico, no caso do Brasil o primeiro e o segundo trimestre, ou seja, a economia acaba retomando o crescimento sem sequelas e o crescimento no primeiro momento é até acima do esperado.

Para o professor, o impacto da covid-19 no Brasil foi muito semelhante a de outros países. Com o bom desempenho da economia em maio, ganhou força essa visão de retomada em V. Mas o colunista alerta que a situação é mais complexa, pois a destruição das vagas de emprego foi muito grande e não apareceram nas taxas de desemprego, uma vez que muitas pessoas não voltaram a procurar emprego, ou pelo próprio cenário do mercado de trabalho ou por medo de contaminação pelo novo coronavírus. “A taxa de desemprego era para ser muito maior, e esse é um elemento importante na dinâmica da economia. Se tem poucas pessoas trabalhando, temos menos produção, menos salário e menos lucro. Esse processo também leva à desvalorização do capital humano e isso tem impactos emocionais, o que afeta a produtividade.”

Nakabashi lembra de outros fatores que causam impacto na possibilidade de retomada em V, como o fechamento ou falência de várias empresas, especialmente as menores, além do crescimento do déficit, que afetou a relação da dívida do governo e PIB, que ele considera normal em tempos de pandemia. Mas alerta que a grande discussão sobre manter ou não o teto dos gastos do governo, ou se deve haver flexibilização desse teto, o que pode levar à manutenção do crescimento da dívida em relação ao PIB, gera mais instabilidade na economia brasileira e piora os seus fundamentos. “Com esse panorama, temos redução dos investimentos, com fuga de capitais, depreciação da taxa de câmbio, que, somados, geram pressão inflacionária e, consequentemente, aumento dos juros. A meu ver, é muito otimista esse cenário de retomada; os impactos da covid-19 vão continuar pelos próximos anos e isso não é retomada em V”, conclui.

Ouça a coluna Reflexão Econômica na íntegra no player acima.


Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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