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As aulas de Ciências podem dar aos alunos muito mais que conceitos científicos e teorias a serem memorizados. A alfabetização científica está ligada também à capacidade de argumentação e análise crítica de um cidadão. Para explicar o conceito de alfabetização científica e a importância do ensino de ciências no cotidiano escolar, o USP Analisa desta semana recebe o professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP) da USP Marcelo Tadeu Motokane e o aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Comparada da FFLCRP Caio de Castro e Freire.
“Assim como alguém aprende a ler e escrever na nossa língua materna, as pessoas também têm que aprender a ler, escrever e falar dentro do conhecimento científico. Não é uma simples memorização de conceitos. A ideia da alfabetização científica é instrumentalizar o cidadão para que ele faça uso da ciência no seu dia a dia, assim como ele faz uso da língua materna”, explica Motokane.
Para Freire, os estudantes têm uma noção equivocada do trabalho dos cientistas, muitas vezes formada com base em programas de televisão e em conteúdos da internet. “Uma pesquisa interessante que nosso grupo fez em escolas da região pediu que os alunos desenhassem e escrevessem como eles enxergam o cientista. Percebemos que há uma visão elitista e individualista do cientista. Nos desenhos, ele é sempre representado sozinho em seu laboratório e não é qualquer sujeito, é sempre um homem e um homem branco. Há uma visão utilitarista, o cientista é sempre aquele inventor de máquinas e tecnologias. Essas inovações também estão relacionadas à área da saúde, então o cientista é só aquele cara comprometido com o desenvolvimento de vacinas, de medicamentos, coisas que trazem esses benefícios mais diretos para a sociedade, e não como um sujeito que produz conhecimento em diversas áreas”, diz.
Pensando em mudar essa visão distorcida dos estudantes e também estimulá-los a entender melhor o trabalho dos cientistas, a equipe de Motokane trabalha com as sequências didáticas investigativas, um conjunto de atividades em sala de aula que atende tanto à necessidade de formação científica do aluno quanto a demandas da própria escola.
“A sequência didática investigativa traz estratégias para o aluno resolver os problemas propostos quanto formas de resolver demandas da escola. É um jeito de praticarmos a alfabetização científica. O ensino por investigação proporciona um ambiente em sala de aula muito propício para troca de ideias”, explica o docente.
“O ensino tem pouco sentido para o aluno quando o papel do professor é de mero transmissor. Se ele está ali com o papel de transmitir algo que já é dado como pronto, o que me resta enquanto aluno a não ser ouvir, memorizar e reproduzir? Se me é dado um espaço, de autonomia intelectual, de debate de ideias, de construção das minhas próprias ideias, de defesa frente aos meus colegas, isso é mais desafiador. As aulas investigativas partem de um problema sem uma resolução óbvia, um gabarito, e ao longo da sequência eu tenho algumas estratégias que posso adotar para resolver o problema”, diz Freire.
Por: Thais Cardoso, Assessoria de Imprensa do IEARP