O pacto fáustico da humanidade com a tecnologia

Guilherme Wisnik aborda as contradições advindas de uma modernidade que estabeleceu um pacto fáustico com a tecnologia e que hoje se depara com um desafio, o de como tratar o futuro desenvolvimento do planeta

 30/11/2023 - Publicado há 1 ano

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Nesta edição de sua coluna, Guilherme Wisnik parte do livro Tudo o que é sólido desmancha no ar, de Marshall Berman, publicado no início da década de 1980 nos Estados Unidos, para refletir sobre os desafios e contradições da modernidade num momento em que é estabelecido um “pacto fáustico da humanidade com a tecnologia”. É uma visão trágica e premonitória da modernidade a partir do mito do Fausto, de Goethe, a qual desemboca na questão ambiental, ou seja, um pacto que trouxe o desenvolvimento econômico à custa da destruição ambiental do planeta, com todas as suas consequências para a espécie humana neste nosso planeta.

“As críticas ecológicas da sustentabilidade a esse modelo fáustico apontam energias renováveis, trocas de matrizes energéticas por matrizes agora verdes….e todas elas apontando um engano desses sistemas de grande escala e predatórios em nome de hortas comunitárias, de pequenas produções, redes colaborativas de horizontalidades, que revertem a perspectiva e o ponto de vista em relação ao próprio pacto fáustico. Mas qual é o problema:  o problema é que essas soluções todas, vistas desse ângulo e de pequena escala e de perspectivas horizontais, como é que elas podem ser aplicadas hoje num mundo que já foi todo modernizado, industrializado e urbanizado?” indaga o colunista.

“Para que a gente substitua todo esse aparato já feito, todas as cidades que existem, o asfalto, a impermeabilização das várzeas, dos rios, de tudo isso, precisaria que a nova matriz fosse considerada desde um ângulo também fáustico, isto é, que todo o sistema de produção de energia fosse muito rapidamente trocado, até para que a gente pudesse ter uma velocidade compatível com a troca de modelo sem que o planeta acabe antes disso. Então tem aí uma espécie de grande contradição na própria essência da questão, que hoje se apresenta a nós sobre como tratar o futuro desenvolvimento do planeta.”


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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