O estudo Tendências temporais na epidemiologia das doenças inflamatórias intestinais no sistema público de saúde no Brasil: um grande estudo de base populacional, publicado na revista The Lancet Regional Health Americas, apontou que a doença de Crohn cresce 12% ao ano no Brasil, com maior frequência nas regiões Sul e Sudeste.
O médico Alexandre de Sousa Carlos, do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explica que são vários os fatores que propiciam a inflamação intestinal.
Início da infecção
O médico comenta a complexidade do entendimento sobre o início da doença no indivíduo: “A gente acha que deve haver uma predisposição genética aliada a fatores ambientais e a uma desregulação da microbiota intestinal, que auxilia na imunidade. Então esses três fatores propiciam um desajuste do sistema imunológico, que ataca o próprio trato gastrointestinal”.
O especialista discorre que os fatores ambientais, que ainda estão sendo estudados, são: estresse; dieta rica em gorduras e alimentos processados; tabagismo; e uso excessivo de anti-inflamatórios e antibióticos.
Sintomas e tratamento
De acordo com Souza Carlos, a doença possui um espectro clínico variado e isso dificulta o diagnóstico em alguns casos. “Os sintomas mais clássicos são diarreia, que tende a ser crônica e pode ter sangramento ou muco nas fezes, dor abdominal que não melhora com analgésicos simples e perda de peso e apetite.” Ele observa ainda que isso independe da dieta do indivíduo, pois é a inflamação do trato gastrointestinal que está provocando esses sinais.
A doença é crônica, isto é, ela não possui cura conhecida até o momento, portanto, o tratamento deve ser realizado pelo resto da vida do paciente, discorre Souza Carlos. “Quanto mais precoce dermos o diagnóstico, quanto mais intervirmos com a medicação correta, menos sequelas o paciente vai ter.” Ele ainda complementa que o objetivo dos médicos é de cicatrizar a inflamação, para que dessa forma a pessoa tenha uma vida com menos dificuldade.
Complicações
Segundo o médico, existem duas principais representantes quando se trata de doença inflamatória intestinal, sendo elas a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Na segunda enfermidade, é possível identificar como principais complicações o fato de que, nos casos graves, deve ser feita uma cirurgia para retirada de todo o intestino grosso, visto que nenhuma medicação funciona mais. Além disso, caso o paciente esteja sofrendo há mais de dez anos com a doença, o risco de câncer intestinal aumenta.
Por outro lado, a doença de Crohn também apresenta uma diminuição do calibre do intestino, condição na qual é necessária uma operação para que o paciente consiga se alimentar novamente. Ademais, dependendo da intensidade da inflamação, pode ocorrer uma perfuração no intestino, que ocasiona uma infecção generalizada e, como consequência, uma cirurgia de emergência.
Prevenção
A primeira coisa é propagar a informação correta para o paciente e para a própria comunidade médica saber dessa doença, que não tem cura mas que pode ser controlada, daí a importância de um diagnóstico precoce. O especialista comenta um estudo que aponta uma demora no diagnóstico dos pacientes: “Há uma média de um ano a um ano e meio para o diagnóstico. Quando falamos de um paciente que possui uma assistência mais fácil ao sistema de saúde, ele vai conseguir diminuir esse intervalo, mas é preocupante, sim, esses intervalos para diagnosticar.
Souza Carlos afirma que um dos temas mais estudados atualmente, nessa área, é a de prevenção da doença de Crohn. Para isso, ele diz que é necessário que o indivíduo possua um estilo de vida saudável, combatendo os fatores ambientais estabelecidos com a prática regular de atividade física e uma dieta equilibrada.
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