Crises financeiras lançam sinais nem sempre visíveis para o mercado

Na visão de Simão Silber, apesar de momentos históricos distintos entre si, as crises possuem algo incomum: exuberância irracional, caracterizada por uma condição na qual baixos juros causam impacto no mercado financeiro

 31/10/2023 - Publicado há 8 meses
As bolhas funcionam a partir de uma lógica de expectativas, em torno de algo que parece lucrar e, por isso, atrai uma grande quantidade de investidores – Foto:Freepik
Logo da Rádio USP

O tema O que nos ensinam as crises financeiras para a construção do futuro? foi recentemente discutido na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. O debate teve como base o livro Crises financeiras: Brasil e mundo (1929-2023), de Roberto Teixeira da Costa, primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários. 

Simão Silber – Foto: Reprodução

Simão Silber, professor da FEA e presidente do Conselho Curador da Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe), afirma que, apesar de momentos históricos distintos entre si, as crises possuem algo incomum: exuberância irracional. Esse termo, criado pelo economista Robert Shiller, discorre sobre um período de baixos juros na economia que impactam o mercado financeiro, na medida em que não há rendimentos com essa condição.

Assim, há um deslocamento para a bolsa e, especialmente, imóveis, criando as chamadas bolhas especulativas. “Quem está no mercado financeiro passa por um fenômeno que tem uma sigla em inglês, tina (there is no alternative) que significa não tem alternativa”, adiciona Silber. 

Bolhas especulativas 

O professor explica que as bolhas funcionam a partir de uma lógica de expectativas, em torno de algo que parece lucrar e, por isso, atrai uma grande quantidade de investidores, mas que, após atingir seu preço máximo, entra em queda. “O prejuízo vai se repercutir em quê? Quem pegou dinheiro no banco emprestado para fazer a especulação e não tem condição de devolver dinheiro vai provocar uma crise bancária e as pessoas vão ficar hiperendividadas”, analisa o especialista. 

Esse cenário revela, na visão de Simão Silber, a forma como a população repete os mesmos erros sem aprender os sinais das crises financeiras. “Eu obviamente diria o seguinte: é muito melhor ser rico do que ser pobre. Então, as pessoas caem de novo nessa ilusão da riqueza recorrente”, reflete. Além disso, ele ainda contrapõe a ideia de Marx de que a história se repete como farsa, afirma que ela se repete como realidade e grandes prejuízos. 

Papel do Estado 

A crise de 1929 pode ser considerada a pior que a economia enfrentou, visto que ainda não se considerava a intervenção do Estado na economia como forma de mitigar os prejuízos.

Anteriormente a 1936, quando Keynes escreve sua teoria geral e associa a atuação do governo com as recessões econômicas, permanecia apenas a ideia de autorregeneração da economia dos acadêmicos clássicos. Todavia, mesmo com certa capacidade de lidar com as crises, o especialista pondera sobre a atuação do governo ao tentar evitar esses cenários, tendo em vista que há elementos fora do controle estatal, como a exuberância irracional. 

Sobretudo, o professor destaca que qualquer agente, seja o Estado, as empresas ou os próprios indivíduos, estão sujeitos a erros, na medida em que ninguém possui uma visão perfeita do futuro. “Esses ciclos de exuberância e períodos ruins vão se intercalar, fiquem bem conscientes do seguinte: toda vez que tiver um período bom, vai ter um período péssimo. Quando tiver um período péssimo, vai ter um período bom”, pontua Silber.

Cenário brasileiro

A economia atual do País, conforme Simão Silber, apresenta um período muito favorável, mas com perspectivas de crescimento econômico muito modestas devido ao pico de inflação em 2022 e a subida da taxa de juros. Em paralelo, desde os anos 1980, o professor ressalta a estagnação do Brasil na armadilha da renda média, que determina a necessidade de duas gerações de uma família para dobrar sua renda. Além disso, no panorama mundial, Silber comenta sobre a difícil e demorada recuperação da economia diante da pandemia de 2021 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.