Contexto geopolítico pode interferir nas discussões ambientais da COP28

O mundo está passando por uma situação complicada e as chancelarias dos países estão envolvidas na tentativa de resolução do conflito entre Israel e Palestina

 17/11/2023 - Publicado há 8 meses
Ainda é preciso realizar muitos avanços nas questões ambientais – Foto: Fotomontagem Freepik/ agenciagov.ebc
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Em 30 de novembro terá início a COP28, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Essa reunião se reveste de especial importância diante dos inúmeros eventos meteorológicos extremos que têm ocorrido nos últimos anos em diversos países. O Brasil, nos últimos anos, enfrentou episódios de frio extremo em 2021, e agora está diante dessa intensa onda de calor. 

Pedro Luiz Côrtes, professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, discute sobre os acontecimentos mundiais atuais e como eles podem interferir nas discussões ambientais apresentadas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.  

A COP28 pode combater as mudanças climáticas? 

Segundo o professor, o mundo está passando por um complicado contexto geopolítico, e as chancelarias dos países estão envolvidas na tentativa de resolução do conflito entre Israel e Palestina. Além disso, a mídia não tem repercutido nenhuma iniciativa, ou nenhuma proposição mais consistente dos países em relação à COP28 – a menos de duas semanas para o início da reunião.  

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

Ainda há uma recente questão de beligerância entre Estados Unidos e China – o presidente norte-americano Joe Biden chamou Li Qiang, primeiro-ministro chinês, de ditador. “Essas são situações que não contribuem para o encaminhamento dos conflitos internacionais, sejam eles reais ou potenciais, isso vai drenando a atenção em relação a questões que poderiam ser levadas adiante na conferência”, aponta o Côrtes. Por isso, as expectativas do especialista a respeito das soluções discutidas na COP28 estão baixas.

Atualmente, o Brasil está sob o efeito do fenômeno climático El Niño, responsável por potencializar chuvas nas regiões Sul e Sudeste e provocar secas nas regiões Norte e Nordeste. Inúmeras cidades brasileiras estão sofrendo as consequências provocadas pelo fenômeno, e, para o professor, essas questões não serão encaminhadas para a conferência de maneira consistente. 

É importante ressaltar que o encontro será realizado em Dubai, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Para Côrtes, é importante analisar as reais motivações para a reunião: o governo local está realmente empenhado em trabalhar em um processo de transição climática e investimento em fontes sustentáveis ou o País busca  influenciar as decisões que venham a ser tomadas em relação à transição energética? 

Metas e a posição brasileira 

Com relação ao governo federal anterior, o Brasil mudou drasticamente sua posição em relação às questões ambientais e agora assume um significativo papel de protagonismo. De acordo com Côrtes, no segundo semestre deste ano, devido ao conflito Israel-Palestina, o foco em questões ambientais perdeu um pouco de força, já que o País vem atuando de maneira ativa para a resolução da guerra. 

Ainda é preciso realizar muitos avanços nas questões ambientais. Entretanto, algumas resoluções apresentadas pelo governo brasileiro podem ser consideradas de extrema relevância, como a redução dos focos de queimada na Amazônia. Além disso, em 2023, o Brasil apresentou o Novo Plano Safra, um programa do governo federal que, segundo o professor, prevê que projetos envolvidos no manejo ambientalmente adequado podem levar à obtenção de taxas reduzidas de financiamento. Existem outros projetos com foco ambiental em andamento ou que esperam aprovação. “O Brasil voltou a ter um protagonismo ambiental, mas ainda não mostrou tudo que se propunha a mostrar nesse primeiro ano de governo”, acrescenta.


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