Curiosidade, uma virtude em extinção em tempos digitais

O problema, segundo Luli Radfahrer, é que as muitas demandas das redes sociais não dão tempo para se cultivar o exercício da curiosidade

 08/12/2023 - Publicado há 8 meses
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A curiosidade é uma coisa superimportante. Alguns dos maiores cientistas falam que a frase mais importante na ciência não é descoberta, “eureka” etc., mas a curiosidade, justamente porque ela te leva a fazer um monte de coisas. Simplesmente porque você está curioso. Por que eu estou ficando com uma bolha no pé?, ou por que esse negócio funciona desse jeito? […]  curiosidade, criatividade estão  inter-relacionadas, elas são superimportantes e estão sob “ataque” dentro desse mundo digital  em que você não tem um único tempo para poder se interessar pelas coisas. Qualquer lugar que você vai está ouvindo podcast ou  assistindo a um vídeo do YouTube, você está vendo vídeo do Tik Tok, todo mundo está falando com você, então você está sempre meio distraído, você não tem tempo para ser curioso. Você não tem tempo para passar na frente de uma árvore e observá-la ou olhar um prato de comida e analisar o que tem nele, porque essa curiosidade é que vai te levar a uma mudança.

Para eu ser curioso, eu tenho que estar inquieto e para isso eu tenho que ter pouca informação e questionamento. Então, a essência básica da curiosidade é:  por que as coisas são do jeito que são hoje em dia? Isso não funciona num ambiente de excesso de informação em que praticamente todas as perguntas podem ser respondidas […]

O problema é que, dentro desse mundo de mídia social, que todo mundo demanda de você ações o tempo todo, todo mundo manda um “zap”,  depois um outro zap, depois um e-mail, depois um áudio no zap,  depois um e-mail para perguntar se você viu o áudio no zap… enfim, você não consegue ter tempo para ser curioso. Um dos maiores problemas é você criar uma sociedade inteira “bovina”, em que você passa a se comportar como gado, como uma vaca, nada é perguntado, nada é questionado, você acha tudo normal.

A curiosidade, essa capacidade de maleabilidade, de a gente perguntar as coisas é muito importante, mas, para que eu tenha curiosidade, eu preciso ter coisas para ficar curioso, e isso é cada vez mais difícil hoje. O jeito mais fácil de ser mais curioso é tentar descobrir as coisas que você gosta e não sair procurando a resposta automaticamente na internet. Antes mesmo de você procurar a resposta na internet, antes mesmo de olhar o Wikipedia, o Google, o Tik Tok ou o YouTube etc., como será que dá para fazer isso? Tenta!  Só pensar na sua cabeça. Depois você pergunta para o ChatGPT como é que monta. Porque esse exercício é um exercício que não dá trabalho nenhum, é extremamente gratificante e ele é gratuito. O mais  legal é que, quando você pergunta depois para o Google e ele diz aquilo que você suspeitava que era, isso vai te estimular a ser ainda mais curioso. Curiosidade é quase como um vício, a hora que você começa ela vai te tornar cada vez mais curioso, se você não tem um impulso inicial, você não se torna curioso nunca.


Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.

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