Uma mudança significativa na diversidade e uso de fontes de energia elétrica se estabeleceu neste século. No Brasil, apesar do uso predominante de hidrelétricas, após a crise do apagão entre 2001 e 2002, houve uma intensificação do uso de usinas termoelétricas, especialmente as movidas por combustíveis fósseis.
Todavia, esse cenário tem se modificado gradualmente nos últimos anos. Além do fator de alto custo ambiental das termoelétricas, nota-se também um custo financeiro importante. “Sem dúvida, dentre as fontes disponíveis no Brasil, a termoelétrica é a fonte mais cara. Alguém pode até dizer que a energia nuclear é mais cara, mas ela ainda é fundamentalmente uma usina termoelétrica, só muda a fonte de combustível”, esclarece Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
Insuficiências
O professor explica que houve um atraso para perceber os limites de atendimento das hidrelétricas, na medida em que a fonte de energia não seria capaz de acompanhar uma demanda crescente. Para tentar suprir a insuficiência, a adesão a termoelétricas era feita em períodos específicos, para auxiliar as usinas hidrelétricas, mas ainda não apresentava uma estrutura para operar de maneira contínua.
Para superar a crise do apagão, o uso de energia elétrica, a partir da queima de combustíveis fósseis, de acordo com Côrtes, foi cada vez mais incentivado pelo governo, principalmente em Santa Catarina, onde há a maior oferta destes recursos naturais. “Chamamos de carbonização da nossa geração elétrica, nós fomos sujando a nossa geração elétrica com emissão de gás de efeito estufa e poluentes, colocando mais carbono na atmosfera”, ressalta o professor.
Alternativas renováveis
Além da alta nas termoelétricas, a energia eólica se destaca nos últimos dez anos, abastecendo essencialmente as regiões Norte e Nordeste do País. No entanto, Côrtes alerta para a necessidade de uma boa distribuição dos parques eólicos, uma vez que é uma forma de energia instável e muito dependente da oferta dos ventos.
Outra matriz energética também em crescimento é a fotovoltaica a partir de painéis solares, em especial, os chamados microgeradores domésticos ou comerciais. ”Esses sistemas, muitas vezes, conseguem atender a toda a demanda e o excedente energético é passado para a rede de distribuição, ajudando a desafogar outras fontes, como as hidrelétricas”, comenta o professor ao notar uma “descarbonização” da geração elétrica brasileira.
Futuros investimentos
Côrtes afirma que a Bacia de Campos, uma das principais áreas de exploração de petróleo no Brasil, continuará a abastecer em boa quantidade nos próximos dez anos. Também há quem defenda a existência e exploração de outra fonte na faixa equatorial e que esta possa substituir a Bacia de Campos, que já possui uma queda prevista.
“Nós estamos investindo tanto em energias renováveis que eu me questiono se nós vamos precisar tanto de combustíveis fósseis para a geração termoelétrica”, considera o professor. Outro ponto mencionado por ele é o retorno a longo prazo de uma possível exploração na faixa equatorial, uma vez que o lucro é esperado dez anos após o início das operações.
Dessa forma, Côrtes defende um planejamento estratégico de médio a longo prazo por parte do Estado sobre as demandas de geração elétrica e de combustíveis fósseis. “Eu acredito que, em dez anos, os recursos fotovoltaicos e eólicos superem a nossa capacidade atual de geração termoelétrica”, prevê o professor.
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