Boletim de Conjuntura Industrial da USP aponta crescimento, mas sinaliza desafios

Carlos Vian explica que algo que deve ser feito é o investimento para ampliar a capacidade instalada, chegando próximo do seu limite

 Publicado: 29/11/2024 às 11:34
Imagem de uma linha de produção numa indústria, operada por robôs
O preço de robôs caiu muito e é muito fácil para as empresas comprá-los e passarem a fabricar na própria matriz, não precisam mais de mão de obra barata – Foto: ICAPlants via Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0
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O mais recente Boletim de Conjuntura Industrial, elaborado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, destaca um cenário econômico repleto de expectativas positivas para o Produto Interno Bruto (PIB), mas também traz alertas sobre inflação, câmbio e o índice de confiança empresarial. Carlos Vian, professor da Esalq e responsável pelo boletim, explicou que, apesar de o crescimento do PIB ser um indicador encorajador, ele vem acompanhado de pressões inflacionárias e desafios no setor industrial, que vive uma espécie de “armadilha econômica”.

“Nós temos um ambiente em que esse crescimento do PIB acaba sendo uma pressão em termos de inflação. As duas coisas estão interligadas.” Segundo Vian, o aumento da demanda interna, impulsionado pela recuperação do emprego e do consumo, está por trás da projeção de crescimento do PIB. Contudo, fatores como inflação e custo de energia têm pressionado o Banco Central a manter uma política monetária rígida, com taxas de juros elevadas. Essa combinação, embora controle a inflação, desestimula investimentos no setor industrial.

Homem branco, ainda jovem, de óculos e vestindo terno escuro sobre camisa de cor azul
Carlos Vian – Foto: Cepea/Esalq-USP

Investimento e produção

A confiança empresarial no setor industrial sofreu uma leve queda, refletindo incertezas sobre a reforma tributária e o cenário fiscal brasileiro. “Isso faz com que os empresários estejam um pouco menos confiantes, mas ainda assim em um estado de confiança. O alerta é que nós estamos próximos do limite. Dependendo da situação, podemos entrar em um estado de desconfiança do empresário, o que é ruim, porque o pensamento sobre investimentos e modernização tecnológica vai sendo uma prioridade cada vez menor e a prioridade passa a ser a de sobreviver, pagar suas contas, salários e todo esse processo”, alerta.

No entanto, os dados de produção industrial revelam um panorama misto. Produtos básicos, como aço e ferro, registraram queda, o que “evidencia que a indústria talvez já esteja começando um ajuste em termos produtivos”. Por outro lado, itens destinados ao consumidor final mostraram crescimento, refletindo o aquecimento da demanda neste final de ano. Além disso, as horas trabalhadas aumentaram, evidenciando o esforço das indústrias em atender à demanda, ainda que sem expandir sua capacidade instalada.

Alertas e projeções

Um dos principais desafios apontados por Vian é a necessidade de investimentos para ampliar a capacidade instalada, já que muitas empresas operam próximas de seus limites. “As empresas trabalham em torno de 80% da sua capacidade para ter uma margem estratégica para atender a eventuais picos de demanda não previstos. Já estamos chegando muito próximo disso. Isso também mostra a necessidade de investimento em aumento de capacidade, não só investimento em modernização”, comenta o especialista.

Encerrando o ano com indicadores melhores que os de 2023, o setor industrial brasileiro ainda enfrenta o velho dilema do stop and go – ciclos de crescimento seguidos por estagnação, no qual se perde boa parte do que havia sido feito. Apesar das incertezas, o professor vê com otimismo as possibilidades trazidas pela política Nova Indústria Brasil, lançada recentemente. “A gente ainda não consegue avaliar os impactos de uma forma mais estruturada, mas é uma expectativa de que faça efeito a partir do ano que vem, em termos de melhoria de produção, de investimento e até de inserção internacional”, conclui.


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