“A saúde humana é um enorme indicador do que já está acontecendo em função do clima”

Paulo Saldiva retoma sua preocupação com os efeitos das mudanças climáticas, como a ocorrência de chuvas e enchentes, que trazem o risco de doenças infecciosas

 04/03/2024 - Publicado há 5 meses

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Uma das consequências mais visíveis das mudanças climáticas são as enchentes, que têm atingido as mais diversas regiões do País, de norte a sul. De acordo com Paulo Saldiva, isso se deve à mudança de regime de chuvas, que tomam de volta os antigos leitos em torno dos quais as cidades se ergueram. No momento em que a água sobe, quem mais sofre são justamente as pessoas mais vulneráveis. Para piorar a situação, a água que invade as casas vem contaminada com esgoto. “Em alguns lugares, o fluxo do esgoto se reverte e começa a drenar esgoto para dentro das casas e, com isso, você tem uma série de doenças infecciosas por organismos cuja veiculação é aquática”. Um exemplo são doenças como as enteroviroses, as hepatites e a leptospirose.

Um agravante em toda essa situação, relata o colunista, é o acúmulo de poças, o que aumenta em muito a eficiência da transmissão das arboviroses: dengue, zika e chikungunya, que atingiram proporções epidêmicas. “Isso é uma consequência direta das alterações de clima tanto global quanto microclima e isso, digamos, está mudando a geografia dessas doenças. Regiões que antigamente não possuíam risco de dengue, como a região Centro-Oeste, estão entrando na mesma situação […] nós temos um aumento da frequência, como também da distribuição das doenças que são determinadas por vetores, ou seja, insetos que vão transmitir o agente infeccioso, inoculado através das suas picadas”.

Ele conclui: “A gente não precisa de exemplos do urso polar, ou de regiões remotas, para discutir a necessidade premente não só de diminuirmos as emissões de gases de efeito estufa, como também investimentos nas regiões de risco dessas catástrofes climáticas que já estão ocorrendo. Normalmente, quando acontece um dos eventos, nós temos medidas espetaculares de governantes investindo em medidas emergenciais. Mas, de modo geral, o que é feito é muito pouco e infelizmente muito tarde. A saúde humana é um enorme indicador do que já está acontecendo em função do clima aqui, no nosso país, nas nossas cidades e no nosso tempo de vida”.


Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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