A invasão da Ucrânia pela Rússia no último dia 24 de fevereiro, dando início a uma guerra que parece longe de terminar, tem atraído olhares de analistas por todo o planeta. O colunista Pedro Dallari, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI-USP), é um deles. Para Dallari, “as imagens e notícias da guerra causam grande impacto e indignação. Não há como deixar de se sensibilizar com as cenas dramáticas de morte e destruição”. “Há na Ucrânia, hoje, uma verdadeira catástrofe humanitária. Isso porque a guerra, como não poderia deixar de ser, tem resultado na violação dos direitos básicos da população atingida, que se vê privada da possibilidade de usufruir os direitos elementares de alimentação, moradia, saúde, educação e até mesmo o direito à vida”, afirma o colunista.
“Conforme a guerra vai se expandindo pelo território ucraniano, a destruição aumenta, levando à tentativa de se criar corredores humanitários, destinados à saída da população de cidades que estão prestes a ser bombardeadas e ocupadas pelas tropas russas, cuja capacidade bélica é muito superior à dos soldados e voluntários ucranianos que procuram resistir aos invasores russos. Começam a faltar alimentos e medicamentos e, assim, as vítimas vão passando a incluir mesmo pessoas não atingidas diretamente por artefatos bélicos”, relata Dallari. “Enfim, é um verdadeiro cenário de horror, em que a violação sistemática dos direitos humanos decorrente de atos de guerra configura aquilo que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha caracteriza como uma catástrofe humanitária”, atesta o professor.
Dallari vai além: para ele, a agressão promovida pela Rússia ao invadir o território da Ucrânia é “ilegal e imoral”. “É ilegal porque, conforme o direito internacional, o uso da força contra um outro país só pode se dar com a autorização do Conselho de Segurança da ONU ou em legítima defesa. Ora, em termos concretos, não se verificou qualquer hipótese de ameaça à integridade territorial da Rússia que pudesse justificar uma guerra de defesa contra a Ucrânia, país evidentemente de muito menor capacidade econômica e militar”, garante Dallari. “E a agressão russa é imoral, pois, ao promover a violação sistemática dos direitos fundamentais da população ucraniana, rompe com os pilares éticos de organização da vida social do mundo contemporâneo, ancorados nos direitos humanos e construídos universalmente a partir da convergência de doutrinas filosóficas e religiosas e de intensa elaboração jurídica”, ressalta ele, afirmando ainda que as tentativas de justificar a invasão russa são “argumentos geopolíticos meramente especulativos”.
“No mundo inteiro, há uma forte reação contra a guerra promovida pela Rússia. Na própria Rússia, em que pese a violência da repressão política, as manifestações públicas vêm ocorrendo, já tendo sido presos mais de 15 mil manifestantes, 5 mil apenas no último final de semana. É fundamental que essa mobilização internacional contra a guerra continue e se torne cada vez mais vigorosa. O que está ocorrendo na Ucrânia é inaceitável”, finaliza o colunista.
Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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