
“O ‘Enem dos concursos’ é uma boa política pública. Ela racionaliza o processo e facilita o acesso das pessoas aos concursos”, comenta José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo. O professor também acredita que esse acesso ao serviço público diminui a desigualdade e afirma que, mesmo que tenham algumas coisas a serem aperfeiçoadas, o exame foi um bom passo para o Brasil.
O Concurso Público Nacional Unificado (CNU), popularmente conhecido como “Enem dos concursos”, é uma grande novidade entre os processos seletivos do governo federal. A prova será realizada pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e vai preencher 6.640 vagas em 21 órgãos federais, com vagas para ensino superior — maioria dos cargos — e ensino médio.
Segundo Portella, o governo pretende atrair pessoas com espírito público e visa a uma mudança nas políticas estatais, mas explica que o concurso, apesar de necessário, é insuficiente. “Não é o ‘Enem dos concursos’ que vai fazer isso, é um conjunto de movimentos da sociedade que mudem a atitude do cidadão brasileiro”, pondera o especialista.
Para o docente, o comportamento mais amplo na sociedade brasileira é resumido pela “armadilha da renda média”, que consiste na acomodação ao se chegar em um cargo público. “A pessoa vai ter acesso a entrar no serviço público, porém, para melhorá-lo, o CNU pode ser um fator inicial, um estimulante e até uma condição necessária, mas é insuficiente”, explica Portella, que ainda fala sobre a importância de haver uma valorização da excelência no Brasil.
Ele ainda adiciona que, mesmo com uma série de fatores que atrapalham uma melhoria de atitude do cidadão — como a polarização política —, a falta de mudança no serviço público não é algo pelo qual apenas os políticos ou a elite brasileira têm culpa, já que, segundo o professor, essa minoria não consegue implantar uma atitude de um país. “Para ser suficiente, nós precisamos ter uma mudança na atitude do povo brasileiro. A busca de excelência tem que ser motivada por outras medidas estatais e também por uma mudança de postura da sociedade, o que mudaria as políticas públicas no Brasil”, finaliza.
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