Sociedade em Foco #170: Caso Milei seja eleito, Brasil não sofrerá grandes impactos econômicos

Para José Luiz Portella, se Javier Milei for eleito no segundo turno, as relações econômicas entre Brasil e Argentina possivelmente não seriam afetadas; entretanto, as relaçõs sociais teriam impactos relevantes

 24/10/2023 - Publicado há 7 meses
Momento Sociedade - USP
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Sociedade em Foco #170: Caso Milei seja eleito, Brasil não sofrerá grandes impactos econômicos
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Em 22 de outubro, aconteceu o primeiro turno das votações para presidente da Argentina. Sergio Massa, atual ministro da Economia e representante do peronismo mais liberal, foi o primeiro colocado, com 36,68% dos votos. Já Javier Milei, representante da ultradireita, ficou em segundo lugar, com 29,98% dos votos. 

José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, explica os possíveis impactos das eleições argentinas para o Brasil, caso Milei seja eleito.

A votação 

A primeira colocação de Massa no primeiro turno surpreendeu a população, os espectadores que acompanharam a eleição e a grande mídia – todos esperavam a liderança do candidato ultradireitista. Entretanto, segundo Portella, Milei surge como candidato relevante nas primárias, que não representam necessariamente como serão as eleições e que contam com um número relativamente alto de abstenções. 

Para o especialista, Massa é o favorito. O Estado possui ferramentas para incentivar eleitores, que não votaram nas primárias, para participar das eleições regulares – e Massa é um candidato que faz parte do governo argentino.

Os votantes mais velhos, por exemplo, não votam no ministro da Economia por apoiarem suas propostas e concordarem com sua política, escolhem esse candidato por medo de Milei e suas ideias mais radicais. “O voto por exclusão é mais forte do que o voto por opção. Então, o pessoal vota contra quem não quer”, pontua. 

Impactos para o Brasil 

Caso Javier Milei seja eleito no segundo turno, as relações comerciais entre Brasil e Argentina seriam pouco afetadas. “Na grande transação comercial entre os países, onde a Argentina é grande parceira do Brasil comercialmente – a maior da América do Sul –, a relação continuaria  normal”, explica Portella. 

Porém, as relações comerciais estabelecidas entre os países são mais fortes na iniciativa privada por obedecerem a lógica do dinheiro e da atividade econômica, e não se afetariam nem com a eleição de Milei. Já as relações de Estado seriam abaladas, de acordo com Portella, caso o candidato da ultradireita vença as eleições. As políticas públicas do governo federal atual não seriam afetadas, entretanto, a questão do Mercado Comum do Sul (Mercosul)  seria impactada, já que Milei declarou que gostaria de acabar com a organização. 

Portella acrescenta que cabe ao Brasil fazer uma revisão no bloco, uma vez que os países participantes já enfrentaram inúmeras mudanças sociais e econômicas desde que a organização foi criada. “O Mercosul, às vezes, atrapalha os países e o Brasil em relações bilaterais com outras nações. E tem um ponto às vezes de tensão entre Brasil e Argentina, e isso sim poderia sofrer mudança”, explica. 

Se a Argentina saísse do bloco, o Brasil poderia olhar com mais atenção para suas relações com os outros países da América do Sul e para os outros países do mundo com os quais deseja estabelecer relações bilaterais. Segundo o especialista, uma ruptura abriria caminho para possíveis melhorias. 

Votos de Patricia Bullrich 

A terceira colocada nas eleições do primeiro turno, com 23,83% dos votos, foi Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança da Argentina e candidata representante da direita. De acordo com Portella, ideologicamente, os votos de Patrícia devem migrar para Milei, já que a candidata é mais conservadora. Entretanto, uma parte poderia passar para Massa – que é peronista, mas possui tendências liberais. 

O especialista acredita que haverá uma divisão desses votos, que dependerá agora do discurso de cada candidato. “O discurso de Milei foi muito bom para atrair principalmente jovens, e pessoas que estão cansadas do sistema. Agora, ele vai ter que ajustar o discurso para captar esse eleitorado que não parece ser um eleitorado de jovens, já é um eleitorado mais conservador, composto de pessoas de meia-idade”, acrescenta. 

Além disso, Portella comenta que os argentinos têm medo de perder os benefícios sociais que recebem do governo, em um cenário em que o país enfrenta graves crises econômicas e sociais. O discurso de Milei já deixou claro que o candidato é contra esse auxílio – o que provavelmente influenciará os cidadãos votantes. A tendência, finaliza o especialista, é que Massa receba um pouco mais de votos. 


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