O violonista Guinga traz um comportamento musical do multiculturalismo, que se dá adotando originalmente a erudição musico-ecologista jobimiana. Com genialidade miscigênica esse compositor instrumentista sugere uma possível herança africana, caracterizada na sua preocupação com o dimensionamento holístico na amplitude das relações ecológica da orixalidade. Uma musicalidade que tem compromisso com a biointegração, fenômeno que é próprio da epistemologia egípcio-bantu, sendo a primeira expressão de consciência do respeito à biodiversidade. Essa alquimia é feita em uma conjugação equilibrada na costura de instrumentalidade léxica, visto no protesto negroide, do bossanovismo que foi flertado também pela composição desse gigante do violão.
A virtuosidade do maestro Moacir Santos sugere uma transcendência que é estranha ao nomos do eurocaucasiano. O tratamento que esse bruxo dá as notas baixas é sugestivo de uma homilia dos orixás, onde o tom grave ganha dimensão de uma sacralidade do Panteão Africano Ioruba, em que as divindades estão debaixo da terra. Esse maestro busca no samba a reconstituição memorial do primeiro, na dimensão da ancestralidade. Razão pela qual a musicalidade do Moacir Santos estabelece em uma abertura coletiva, que se dá no improviso jazzístico sugestivo de uma circularidade de saberes musicais, articulado em ludicidade na qual o existencialidade se faz no terreno da opressão eurocaucasiano. A música do Moacir Santos traz uma dialética bakhtiniana onde o afrodescente carnavaliza a dor com a alegria, da herança comunal do tribalismo negro.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
.
