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O mundo produz anualmente 816 milhões de toneladas de leite de vaca, 116,5 kg de leite por pessoa, com o consumo do produto crescendo a uma taxa de 1,2% ao ano desde 1999. É por isso que, nesta edição do Pílula Farmacêutica, a acadêmica Giovanna Bingre, orientada pela professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP Regina Andrade, fala sobre a intolerância à lactose, uma questão de saúde que atinge até 40% da população mundial.
Segundo Giovanna, a intolerância à lactose não tem tratamento e as pessoas com o problema são orientadas a reduzir o consumo de leite e seus derivados para normalizar o sistema digestivo e intestinal, afetados pela condição.
A acadêmica explica que quando quebrada, essa molécula “libera uma glicose e uma galactose que são absorvidas, caem na corrente sanguínea e são transformadas em energia para o organismo”. E é quando o organismo não produz essa enzima, a lactase, que a lactose continua ligada a dois açúcares e é conduzida ao cólon, “onde as enzimas intestinais vão metabolizar a molécula e liberar os gases responsáveis pelos desconfortos”.
Para os que não querem cortar totalmente o consumo de leite da dieta, a proposta da indústria farmacêutica é produzir em laboratório a enzima lactase, responsável por quebrar a molécula de lactose durante a digestão do leite. É assim que, alimentos que possuem rótulos indicando “sem lactose”, na verdade, possuem lactase na sua composição. “A lactose não é retirada do leite durante a fabricação, mas eles suplementam a enzima para que a pessoa que tome, caso tenha intolerância, consiga digerir a molécula e não passar mal”, ensina Giovanna.
O que é a intolerância à lactose?
Mesmo fazendo parte da vida de bilhões de pessoas, o leite de vaca pode causar problemas de intestino e digestão em quem possui intolerância à lactose. A acadêmica conta que diferente da alergia, que causa uma super-reação do sistema imunológico na presença de leite ou derivados, a intolerância impede que a digestão aconteça.
A intolerância à lactose em si abrange uma série de sintomas e não está associada somente ao leite de vaca, mas de mamíferos como um todo e aos derivados do leite. A acadêmica diz que o tipo de intolerância mais encontrado é a hipolactasia do tipo adulto, com sintomas que variam de leve desconforto abdominal e gases até uma diarreia ácida, lesões intestinais e eliminação de gordura pelas fezes. Já a hipolactasia congênita, presente desde o nascimento, é muito rara e é preciso a suplementação de fórmulas especiais, já que a amamentação se torna inviável.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da intolerância geralmente é feito através do depoimento do paciente e avaliação do quadro clínico. Giovanna indica que o médico pode pedir o teste de lactase, exame que mede o aumento de glicemia no sangue depois do consumo de leite. De acordo com a acadêmica, “uma pessoa com quantidade normal de lactase conseguiria degradar a lactose em glicose e galactose, que causaria um aumento da concentração de açúcar no sangue. Sem a quebra do dissacarídeo, os níveis se mantêm iguais”.
Além disso, outra opção de exame é o de hidrogênio. Giovanna conta que a molécula pode ser quantificada na respiração e “os resultados podem indicar ou não se as bactérias do cólon estão consumindo a lactose e liberando gás”. Ainda sim, de acordo com a estudante, o diagnóstico por vezes é feito de forma incorreta. “Situações como inflamações intestinais podem causar insuficiência temporária de lactase e levar a episódios de intolerância, se normalizando depois. A partir disso muitas pessoas tiram conclusões erradas e se consideram intolerantes.”
Giovanna então alerta, “se você apresenta sinais como gases, diarreia e dores abdominais após o consumo de leite e seus derivados, procure um médico e um nutricionista. Existem diversas opções para quem precisa contornar esse alimento no dia a dia e é possível ter qualidade de vida sem precisar cortar o leite completamente da sua dieta”.
Coordenação: Rosemeire Talamone