A tragédia ambiental que atingiu o Rio Grande do Sul no início deste mês trouxe uma grande quantidade de informações falsas que circulam pela internet e prejudicam a comunicação eficiente com a população. No podcast Fake News não Pod desta semana a acadêmica Beatriz Calasense traz uma dessas notícias que diz ser necessário que todas as pessoas que tiveram contato com a água da enchente, possivelmente contaminada, usem medicamentos para prevenção da leptospirose.
Beatriz informa que leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, transmitida pelo contato com água ou do solo contaminado pela urina de animais infectados. Após enchentes, o risco de transmissão aumenta, tanto pelo contato direto com a água quanto no processo de retornar às suas casas, onde as pessoas podem entrar em contato com água suja ou lama contaminada. Embora a maioria das infecções seja leve ou assintomática, cerca de 15% dos casos podem se tornar graves.
Ainda segundo Beatriz, em situações de catástrofe, como a do Rio Grande do Sul, é realmente essencial garantir a disponibilidade de medicamentos para o tratamento rápido dos casos suspeitos. Porém, a quimioprofilaxia, uso de medicamentos para prevenir uma doença, não é recomendada pelo Ministério da Saúde como medida de prevenção em saúde pública, mesmo em situações de catástrofes.
Beatriz afirma que não existem evidências científicas seguras o suficiente para justificar essa ação em massa. “A quimioprofilaxia para a leptospirose seria a utilização do antibiótico Doxiciclina. A ingestão de remédios por conta própria é um risco, e o alerta é ainda mais sério quando se trata de um antibiótico, que pode ter consequências negativas e seu uso incorreto pode induzir à resistência bacteriana.”
A quimioprofilaxia contra a leptospirose é indicada apenas para quem teve contato prolongado com as águas de enchentes, como socorristas e equipes de resgate. A orientação é atentar ao aparecimento de sintomas, que incluem febre, náuseas, vômito e dores no corpo. “A leptospirose tem tratamento e deve ser feito desde o momento de suspeita, por isso a pessoa deve imediatamente procurar um médico e relatar os sintomas.”