Ambiente é o Meio #12: Nova lei do saneamento pode não atender à população de menor renda

Para o professor Luiz Roberto Santos Moraes, a iniciativa só atende aos interesses do capital privado e faz “privatização seletiva” dos serviços de água e esgoto

 22/09/2021 - Publicado há 3 anos
Ambiente é o meio - USP
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Ambiente é o Meio #12: Nova lei do saneamento pode não atender à população de menor renda
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O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com Luiz Roberto Santos Moraes, professor da Universidade Federal da Bahia, sobre a privatização de serviços públicos de saneamento básico no Brasil. Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental, atuando nos campos do saneamento ambiental, saúde ambiental e política, gestão e planejamento de saneamento básico, Moraes comenta a Lei nº 14.026/20, que altera a Lei Nacional de Saneamento Básico.

Para o professor, a lei fez modificações substanciais, “escancarando para o capital e o setor privado a área de saneamento básico” que envolve os serviços públicos de abastecimento de água, esgotamento sanitário, de manejo de águas pluviais e drenagem urbana, e de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. O resultado, segundo Moraes, foram quatro ações diretas de inconstitucionalidade, ajuizadas no Supremo Tribunal Federal, mostrando que a lei “só atende aos interesses das entidades que defendem os interesses do capital”. 

Além de inconstitucionais, Moraes destaca dispositivos que foram “atropelados” para que a lei fosse aprovada e privatizasse, principalmente, os serviços públicos de água e de esgoto sanitário. Trata-se de uma “privatização seletiva”, adianta, pois o grande déficit do abastecimento de água e esgoto, no Brasil, ocorre na periferia de grandes cidades, em pequenas cidades e áreas rurais, onde se localiza a população de menor poder aquisitivo e que “não tem condição de pagar uma tarifa por esses serviços”, avalia o professor. 

Como contraponto, Moraes cita os resultados de um estudo que envolveu dez instituições de ensino superior de todo o mundo e analisou os serviços públicos de diversas cidades, no período de 2000 até setembro de 2019, mostrando que houve “desprivatização” destes serviços. De acordo com o levantamento, 312 cidades, em 36 países, “remunicipalizaram, reestatizaram os seus serviços públicos de água e/ou de esgotamento sanitário” e 85 municípios de 11 países “reestatizaram os seus serviços públicos de manejo de resíduos sólidos”, mostrando que a “onda privatista” não funcionou nesses países.


Ambiente é o Meio

Produção e Apresentação: Professores Marcelo Marini Pereira de Souza e José Marcelino de Resende Pinto, ambos professores da FFCLRP
Coprodução e Edição: Rádio USP Ribeirão 
E-mail: ouvinte@usp.br
Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 107,9; ou Ribeirão Preto FM 107.9, ou pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS .
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