No episódio desta semana do Ambiente é o Meio, o escritor Tiago Novaes fala sobre a reação da sociedade em relação às crises ambientais do mundo no século 21. Através do novo livro Baleias no Deserto: O corpo, o Clima, a Cura pela Terra, o doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP trabalha, na ficção, uma tentativa de sensibilizar o público quanto à questão do meio ambiente.
Novaes conta que a produção do novo livro se inicia durante a pandemia da covid-19, com a observação do caos em termos geopolíticos e da dessensibilização das pessoas quanto à violência e aos problemas do mundo. Segundo o escritor, foi através de uma foto premiada de Lalo de Almeida sobre o corpo de um macaco carbonizado após queimada no Pantanal que começou a refletir sobre a relação do público com imagens de tragédia. “Me chamou muita atenção que a primeira reação que a gente tem é de repulsa, de ojeriza, de tentar não enxergar aquilo”, comenta.
Para Novaes, a abordagem de questões ambientais revela um padrão interessante de reações. Inicialmente, há quem confie na solução integral dos problemas por meio do trabalho de cientistas, bilionários ou Estados. “Como a gente pode fazer para falar para as pessoas acordarem?”, reflete sobre o processo de desenvolvimento do livro, considerando que muitos ainda tendem a desacreditar das crises, apontando exagero, sensacionalismo jornalístico ou a simples crença na autorregulação do planeta.
Sob a perspectiva de Freud, o autor destaca que as campanhas de conscientização ambiental transmitem implicitamente a ideia de que a resolução depende exclusivamente de boa vontade e conciliação com a natureza. Novaes aponta que a concepção idealizada de um mundo movido pela empatia e pelo cuidado, em que a natureza é retratada como uma entidade acolhedora e harmoniosa, é incompleta ao negligenciar o impulso agressivo humano, a pulsão de morte e o código genético orientado para o medo e a ameaça.
Essa intensidade emocional, observa o escritor, tem sido apropriada pela extrema-direita, que “está se valendo de crises provocadas, inclusive pela urgência climática” em contextos como o Brasil, Hungria, Israel e agora na Argentina. A presença desse fenômeno, segundo Novaes, não é algo novo, contudo ele reconhece a importância de direcionar essa intensidade emocional para ações construtivas.
Ambiente é o Meio