O podcast Ambiente é o Meio desta semana conversa com a bióloga Patrícia Ruggiero, integrante do projeto Biota Fapesp e pós-doutoranda no Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, que desenvolve pesquisa sobre a relação entre desmatamento nas áreas de Mata Atlântica e eleições. A pesquisadora iniciou o trabalho investigando a efetividade de políticas governamentais voltadas para a conservação de florestas e, calculando as taxas de desmatamento por município, percebeu um padrão relacionado aos anos de eleição.
Os governantes costumam fazer as medidas mais impopulares de seus governos no início dos mandatos, “porque o eleitor tem uma memória que decai ao longo do tempo”, diz Patrícia. Nesse sentido, “aquilo que ficou lá atrás importa menos do que aquilo que aconteceu mais perto do momento da eleição”. E este é um padrão muito estudado na economia, adianta, pois, à medida em que as eleições se aproximam, os governantes tendem a “realizar medidas mais populares, para ganhar votos, e em que é esperado encontrar comportamentos mais oportunistas”.
A novidade, trazida pela pesquisa para a área dos recursos naturais e conservação, é que esse padrão de governança próximo às eleições também foi observado em relação ao desmatamento. Ou seja, foi verificado, através dos dados coletados, que os desmatamentos aumentam em anos de eleição; agora, a bióloga quer saber qual o mecanismo que relaciona esses dois fatores.
Foram estudados os anos de eleições municipais, considerando 2.253 municípios, federais e estaduais, entre 1992 e 2014, e foi observado o efeito desmatamento em ambas as modalidades de eleição. Outro dado interessante que a pesquisa traz é que, no passado, essa prática era mais intensa em relação aos últimos anos analisados, conta Patrícia.
De acordo com a literatura usada na pesquisa, “esses ciclos podem diminuir à medida que a democracia amadurece”, fato que, segundo a bióloga, envolve aprendizado dos leitores “a distinguir o que é um comportamento competente, um governante competente, que traz benefícios, de comportamentos oportunistas” voltados a vencer eleições. E isso envolve o acesso à informação.
Ambiente é o Meio